O CONVITE

O Convite
(Autoria: Sônia Moura)

cONVITE DE cASAMENTO


Há quase dois anos Regina namorava Guilherme, conheceram-se durante uma viagem de negócios que fizeram a São Paulo. O tempo passara muito rapidamente, eram os dois anos mais felizes da vida daquela linda morena de cabelos negros e anelados e de grandes olhos azuis.

Guilherme era um jovem executivo que dirigia uma grande empresa em Porto Alegre, enquanto no Rio de Janeiro, Regina exercia as funções de uma executiva tão competente, quanto ocupada.

Eles não se encontravam com a freqüência desejada, pois, além de terem residência em cidades diferentes, ambos viajavam muito. Mas, ainda assim, o namoro ia de vento em popa, o casal parecia feito um para o outro, e, quando estavam juntos, como dois pombinhos, arrulhavam em hotéis pelo Brasil afora, pois dificilmente conseguiam se encontrar em suas cidades.

Vez por outra, Guilherme também viajava à Europa, onde ia visitar seus pais que moravam em Londres, aproveitava para tratar de negócios, participar de congressos e de outros eventos, e, embora Regina também fosse à Europa, a trabalho, não tinham conseguido ir juntos ao velho continente.

Um dia, Regina foi chamada à presidência, fora designada para participar da inauguração da nova filial. Esta notícia foi bem recebida, parecia um milagre, pois Regina iria poder tirar uns dias de folga.

Na verdade, a história não é bem assim, mas a inauguração de mais uma filial na cidade de Moréia e, ali pertinho de Moréia, numa cidade a mais ou menos três horas de viagem, morava Virgínia, uma amiga de infância de Regina, que se casara e fora morar numa cidade chamada Real, assim sendo, a executiva decidiu que, estando tão perto, iria fazer uma visita à amiga e aproveitaria para ficar por lá mais uns dias, além dos quatro dias em que estaria participando da implantação da nova filial.

Naqueles dias, Guilherme estaria em Paris e passaria também um tempo em Londres, visitando os pais. Aliás, pensou Regina, ainda não pude conhecê-los e nem ao restante da família, também, todo mundo morando fora do Brasil, só Guilherme viera para cá, para dirigir a filial de uma das empresas da família, no Brasil.

No aeroporto, Regina e Guilherme despediram-se e tomaram rumos diferentes, ele ia rever a Torre Eiffel e o Big Ben e ela iria conhecer aquela cidade de nome tão estranho – Moréia – e as suas famosas árvores frondosas que, naquela época, estavam floridas, colorindo as ruas, os becos e os quintais das casas, depois, iria cair na Real, quer dizer, iria à cidade chamada Real, a moça riu de seus pensamentos.
Iria descansar naquela pequena cidade e, principalmente, iria respirar o ar puro do campo, beber leite fresco, comer as coisas gostosas da fazenda de Virgínia e João.

Na despedida, Regina sentiu que Guilherme parecia querer falar-lhe algo, mas hesitou e partiu, deixando-a com um longo beijo na boca e com estas palavras a martelar-lhe os ouvidos: -Haja o que houver, lembre-se de que eu amo você! Regina resolveu não pensar muito sobre a hesitação de Guilherme.

Na primeira semana, com a competência de sempre, Regina cumpriu o seu papel, orientou, fiscalizou, definiu estratégias, e, no último dia, à noite, houve uma pequena festa, seguida de um jantar de despedida para o alto escalão da empresa.

Durante a festa, Regina percebeu os olhares interessados que Jorge, um dos gerentes, lançava em sua direção, mesmo lisonjeada, preferiu ignorar, por duas razões: não gostava de misturar trabalho e namoro e, claro, em sua vida, havia Guilherme.

Na manhã seguinte, bem cedo, um carro da empresa estava à disposição para levá-la à cidade Real.

Virgínia e João a esperavam, ansiosos. As amigas abraçaram-se com a força da saudade acumulada, há muito tempo, depois, Regina foi apresentada a alguns empregados da fazenda Confraria que se encarregaram de seus pertences.

Aquele primeiro dia na fazenda serviu, principalmente, para que as amigas atualizarem alguns assuntos, pois, embora se comunicassem por e.amils, msns e telefones, nada substitui o encontro cara-a-cara, olho no olho. E nos momentos seguintes, haveria passeios, risos, beber o leite fresquinho, ver o gado no pasto e desfrutar das coisas boas que existem em uma fazenda como aquela.

As duas eram de famílias abastadas, Regina era a única herdeira de uma família, que dominava o mercado imobiliário, em várias capitais brasileira, além de outros negócios, já Virgínia, assim como João Alberto, era filha de importantes latifundiários, e, ao se casarem, resolveram ir morar no campo; ele veterinário e ela administradora de empresa, ficaram com a Fazenda Confraria para dela cuidar.

Quando Regina falou para Virgínia que ainda não conhecera os pais de Guilherme, a amiga estranhou o fato, mas Regina disse que Guilherme prometera que o encontro entre ela e os pais dele aconteceria em breve.

Na volta do passeio à cachoeira, um lauto almoço aguardava o casal e a amiga, após o almoço, um dos empregados entregou à dona da casa a correspondência que o carteiro deixara pela manhã, pedindo muitas desculpas pelo atraso da entrega.

A dona da casa começou a abrir os envelopes, e disse à amiga: – Desculpe, Regina, mas preciso fazer isso o mais rápido possível, porque aqui o correio, dependendo do tempo, às vezes atrasa, pois fica difícil para o carteiro chegar até aqui. Por exemplo, choveu muito, principalmente nas duas últimas semanas, aí, amiga, ninguém consegue chegar à fazenda.
No meio da correspondência havia um convite em nome do Sr. e Sra. Chusmann Steindorff, sobrenome da família de João Alberto, Virgínia falou: -Deve ser para os pais do João. E colocou o convite sobre o bufê.

À noite, como os pais estavam na Europa, João resolveu abrir o envelope, passou os olhos sobre ele e mostrou- o à mulher, acrescentando:- Papai me falou sobre este casamento, sabedores das dificuldades para se chegar aqui, principalmente nesta época, os pais do noivo entraram em contato com papai e formalizaram o convite por telefone, por isto, meus pais foram para a Europa.

Virgínia admirava detidamente a beleza, o design, a finesse daquele convite de muitíssimo bom gosto, era de fato muito bonito. De repente Virgínia disse: – Olha, a coincidência, Regina, o nome do noivo também é Guilherme.

– Ainda bem que não é o meu, respondeu Regina, rindo fartamente.

Em seguida, todos foram para o varandão jogar conversa fora, olhar o luar, sentir o vento fresco da noite e sentir o cheiro das flores, molhadas pelo orvalho. Lá pelas tantas, ainda surgiu um peão com uma viola, aí a noite se alastrou e demorou muito a passar, ninguém queria ir dormir.

Na madrugada, Regina resolveu escrever em sua agenda, palavras para depois mostrar a Guilherme e começou: Moréia, 23 de setembro…. Falou para si mesma: – Engraçado, Guilherme não entra em contato há três dias, já liguei para o celular, mas ele não atendeu, no escritório de Londres, dizem que ele não está, coisa estranha… Foi dormir e sonhar com Guilherme.

No dia seguinte, enquanto Virgínia dava ordens aos empregados, Regina apanhou o convite para apreciar-lhe a beleza, a cor perolada, era fascinante, abriu-o e lá estava: O Sr. Evanildo Pires Saldanha Istalaff Gadanha e Sra e o Sr.Marcel Euvides de Aurora Lombardo convidam para o casamento de seus filhos Guilherme Francesco e Heidden Tasty a realizar-se às vinte horas do dia 23 de setembro de dois mil e oito, na Igreja… .

Ao voltar para a sala, Virgínia encontrou a amiga desmaiada, enquanto o convite, agora sem nenhum glamour, dormia a seu lado…

(Do livro: Súbitas Presenças de Sônia Moura)

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