O DONO DO BANCO

O Dono do Banco
(Autoria: SÔNIA MOURA)

Era pessoa importante. Todos o conheciam e todos (ou quase todos), naquela cidade, deviam a ele. A bem da verdade, não tinha mesmo como escapar, por isso os moradores confessavam abertamente sua dependência em relação àquele homem.
Ele era bondoso, por isso todos sabiam que podiam contar com ele, nas horas difíceis de suas vidas. Seu ar de importante, como diziam os conterrâneo, não anulava sua bondade, seu bom caráter e sua vontade de ajudar.
Dizer que ele não cobrava “juros”, é incorrer em erro. Cobrava, claro que sim,mas, ainda assim, todos reconheciam que seus serviços valiam ser bem pagos. Ninguém se importava com os juros por ele cobrados.
Seu Malaquias era uma figura ímpar,  parecia igualar-se ao pé de jacarandá que estava fincado no meio da praça, sabe-se lá há quanto tempo.
Ambos imponentes, ambos espécimes de muita fibra, ambos altivos e que iriam durar muito, só não deveriam ser retirados de seu habitat, isto seria um crime. Independente do que diz o IBAMA, era crime porque ambos eram amados pelos seus.
Durante anos, seu Malaquias cuidou daquela praça como se fosse o quintal de sua casa, aliás, a praça era a sua casa.
Antes do amanhecer lá estava ele cuidando de tudo e de todos: dos bancos, do busto do ilustre fundador da cidade, das plantas, do lago, dos bichos (gatos vadios, peixes coloridos, pássaros cantadores, cães de rua e dos patinhos do lago).
Numa certa manhã primaveril, seu Malaquias foi encontrado morto, sentado no banco da praça. Parecia sorrir para as flores amarelas do enorme flamboyant que, dizem, ele plantara naquela praça, quando era um menino de calças curtas.
Quais os juros cobrados por seu Malaquias? Muito simples: exigia que tratassem a natureza com desvelo, amor e carinho. Eram  juros mais que justos.
Os moradores, a quem seu Malaquias tanto ajudara, dando conselhos, ajudando aos pais, pois ali ficava observando as crianças , enquanto estas brincavam e já as livrara muitas de perigos; aos mais velhos que contavam sempre com sua palavra amiga, enfim, a toda a gente, para a qual ele deixou aquele tesouro, cravado no coração da cidadezinha do interior, todos concordaram que aquele banco era do seu Malaquias e dele sempre seria.

Assim, seu Malaquias passou para a história da cidade, como o dono do banco. Até hoje, passado tanto tempo, lá está o banco e uma placa com a seguinte inscrição: “Ao amigo Malaquias, a cidade reserva, para sempre, este lugar, ele é o dono deste banco.”

((Do livro Súbitas Presenças de SÔNIA MOURA)

                           Banco da praça

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