SEM AMANHÃ?

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Esmeralda disse à Sofia que tinha certeza de que tudo estava acabado, não havia mais esperança, uma pena, pensou ela, porque ainda havia muito amor.

A manhã se prenunciara entre nuvens, mas um sol tímido começava a despertar, e, enquanto as ondas mexiam as areias, a saudade remexia os pensamentos de Esmeralda.

Sentada na bela varanda, a dona da casa chamou a empregada e pediu:

– Margarida, por favor, sirva o café.

A visitante Sofia, encantada, exclamou:  – Que bela vista, Esmeralda, este lugar é lindo!

Terminado o café, as amigas saíram a passear. Os olhos de Esmeralda, verdes como a mata, nadavam num lago salgado, feito de lágrimas e dor, muita dor.

A seu lado, Sofia tentava consolá-la. Pobre amiga, para eles não haverá mais o rio tranquilo da paixão. Preciso ficar ao lado dela, olha só quanta tristeza!

Depois, apoiou-se no braço da amiga e lhe disse sorrindo:  – Amanhã será outro dia.

– Outro dia? Retrucou Esmeralda, daqui em diante minha vida será sem amanhã.

Esmeralda pensava nos versos que Rui fizera para ela: Sem você, sombras cobrirão o céu/Sem seu carinho, andarei ao léu/Sem seu amor…

Não conseguiu chegar ao fim do poema. Por que ele me deixou, por quê?

Vendo que a tristeza queria tomar posse da alma da amiga, Sofia lhe disse: – Saia da concha, querida, o que vale é viver.

No vale, os primeiros raios de sol despertavam a vida e, neste momento, a imagem morta da tristeza começava a se desintegrar.

Será que o sol finalmente a despertara? questionou a amiga.

(Da obra; GAVETAS SECRETAS de Sônia Moura)

 

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