BOCAS

 

amorerde

Bocas  (Sônia Moura)

Qualquer beijo é bom (menos o beijo falso), mas beijo bom mesmo é o beijo na boca, esse é uma delícia. Se você tem uma boca para beijar, preste atenção:

Para evitar ser pego com a boca na botija e espantar o olho gordo que queira atrapalhar as delícias desse beijo, o melhor é fazer boca de siri ou, então, só comentar à boca pequena, senão o assunto se espalha de boca em boca.   

Prepare-se, sempre vai ter alguém falando à meia boca: -Gostaria de poder beijar assim, então, cala-te boca, nada de botar a boca no mundo, porque, tenha a certeza, se a notícia se espalhar, vai ter um mundo gente de boca aberta e um outro tanto com água na boca.

Portanto, nada de botar a boca no trombone, nada de alardear aos quatro ventos, não banque o boca grande, melhor se resguardar para não cair na boca do povo.

Dirão alguns: – Com certeza, ela caiu na boca do lobo, não ligue, vista a sua calça boca de sino (voltou à moda, sabia?) e não pare na boca do túnel, pois o fantástico é atravessá-lo, nada de ficar indecisa arriscando-se a entrar em um tremendo bate boca, você sabe, há muito boca suja por aí, então para que discutir?

 Pense só nos beijos, pense na língua roçando os lábios, acariciando o céu da boca, torne-se criança e brinque de “bento que bento é o frade, frade, na boca do forno, forno, tirai um bolo, bolo, tudo o que seu mestre mandar, faremos tudo.” Então,  o senhor mestre ordena: – vá conhecer o país das quimeras, não sabe onde é? Pergunte, pois quem tem boca vai a Roma, e se chegar lá na boca da noite, entregue-se às maravilhas de amar e, de novo, aproveite, porque beijo bom mesmo é o beijo na boca.

[Da obra: Coisas de Adão e Eva, de Sônia Moura]

amor_distante

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *