Ambiguidades (por Sônia Moura)
As palavras raras
Que bailam em tua boca
Trazem em seu bojo
A certeza da ambiguidade
Entre a palavra e a verdade
É espectro, é sombra
De uma trama bem urdida
Serve apenas
Para tentar estancar o sangue
Buscando esconder a ferida
Que se quer seja escondida
Mas não tem jeito não
Ferida do coração
Não há sutura que estanque
Não há palavra que amanse
Não adianta discurso
Não adianta análise
Não adianta firula
Não adianta nem pílula
Nada resolve as pendengas
Nascidas do coração
Por isso, acorde, seu moço,
Guarde seu falar bonito
Essa ferida danada, seu moço,
Não se cura nem com grito
(Da obra: Coisas de Adão e Eva, de Sônia Moura)