RETROCESSO

MULHER

Como de costume, saía para sua caminhada matinal à beira mar. Ainda se fazia silêncio na cidade que, daqui a poucos minutos, iria deixar sair de suas entranhas barulhos de todos os tipos. O vai-e-vem já estava para começar, pernas apressadas, cabeças pensativas, olhos cheios de sono. Era a vida agitada a ocupar o seu lugar, enquanto a tranqüilidade iria descansar. Via esta cena praticamente todos os dias.
Embora àquela hora fosse fácil atravessar a Nossa Senhora de Copacabana, porque quase não havia carro transitando, ela ficou parada diante do sinal de trânsito, observando um casal do outro lado da rua.
Com um sorriso a la Monalisa, observava a difícil despedida do casal enamorado Eles estavam tão grudadinhos e davam um, dois, três, quatro e tantos beijos, despediam-se e voltavam a se abraçar.
Pensou em sua mocidade, ela também já vivera momentos assim.
Sua alma alegrou-se, por meio do retrocesso da memória e o sorriso alargou-se. Atravessou a rua; enquanto seu olhar atravessava a cena de cada beijo e sua mente fluía pelo túnel do tempo. Um tempo em que a felicidade era tão presente que ela sequer iria imaginar que, somente no futuro, iria dar tanto valor à felicidade do passado.
Já no outro lado da calçada, pode ver melhor a face da juventude enamorada, passou bem pertinho como se pudesse reviver aquele momento único.
Precisava seguir em frente, assim como o tempo. Olhou mais uma vez para trás e os pombinhos continuavam a arrulhar e a se beijar.
Viu quando outra mulher, mais ou menos com a sua idade, olhava o casal enamorado, mostrando também um sorriso de saudade estampado nos lábios.
Baixinho, disse adeus à cena, precisava continuar…

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