A FLOR DA MORTE

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Morava à beira mar, numa cidade pequenina, aconchegante, onde a vida passava devagar. Tudo era muito calmo, somente o sino da igreja quebrava o quase silêncio daquele lugar.

Um dia, no pequeno lugarejo, surge um construtor ávido por lucros e resolve promover a cidade: novas construções, novos projetos, tudo, tudo novo. Foi neste momento que o  destino resolveu trabalhar e tudo mudar. Para melhor? Para pior? Difícil dizer.

Para alguns, o lucro rápido e a ascensão econômica, política e social era a certeza de que a mudança foi benéfica, ao menos para suas contas bancárias. Outros, menos afortunados, queixavam-se que a paz se afastou da cidade, quando muitos estranhos lá aportaram.

Mas, para Clara, pouco importava o que estava acontecendo, pois a moça tinha o seu jardim secreto, onde somente ela poderia chegar. Clara julgava-se protegida contra todas as mudanças.

Mas, haverá esconderijo para Eros ou para Tânatos?

Ao conhecer Francisco, homem vivido e sedutor, Clara deixou-se levar por sua lábia e deixou-o penetrar no seu jardim secreto. Ele colheu a rosa que queria, presenteou-a com uma conta cinza, cor da desesperança e do desespero e, depois, partiu sem dizer adeus.

Assim é que Eros deu lugar a Tânatos no jardim secreto de Clara, tomando conta de sua vida para sempre e, a partir daquele abandono sem nenhuma explicação, um coração estraçalhado foi plantado no jardim, agora já não mais secreto, e naquele lugar, uma flor, em forma de coração e  com as pétalas partidas, nasce todo os anos, sempre no dia 21 de agosto.

[Do livro CONTOS e CONTAS, de SÔNIA MOURA]

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