MIL VOZES

Mil vozes

Mil vozes (por Sônia Moura)

Recolho as lágrimas e sonho com o renascer do brilho do seu sorriso e, assim, reinvento a sua presença. Depois, vem um aterrador silêncio e é dele que tiro forças para gritar: -Preciso da sua carne na minha, para não enlouquecer de saudade e conseguir conviver com esta dubiedade que é amar você.

A saudade junta-se à sombra de meus devaneios, recriando miragens de sua imagem, deixando que elas penetrem-me a alma, só assim calo o silêncio e consigo ouvir nitidamente a sua voz, emoldurando palavras que falam de amor.

Sua ausência parece roubar a nitidez disfarçada da obscuridade tão necessária a qualquer paixão e tenta colocar em seu lugar a lucidez, esta marca impossível de conviver com o amor ou com a paixão.

Tal qual Diógenes, procuro desesperadamente uma lanterna para iluminar meus caminhos e seguir seus passos, pela trilha dos amores vitoriosos, pois é preciso ter coragem de amar, é preciso livrar -se da incerteza, porque o amor não deve conviver com ela.

Embora o amor tenha muitas faces, é preciso reuni-las, para que a sua verdadeira face se torne visível, por isso o amor verdadeiro rejeita qualquer tipo de máscaras, mesmo as mais belas, mais sedutoras, mesmo estas jamais seduzirão o amor.

Não quero sair do amor e nem quero que ele saia de mim, nunca, nunca. Quero o amor sem metáforas expostas, tal qual fraturas.

Só aceitarei as metáforas que venham a enfeitar o amor, que todas sejam invisíveis e que somente olhos atentos e sensíveis possam ver qualquer imagem do amor: construída, inventada, rearranjada, metamorfoseada, desenhada, tanto faz.

Decreto, ainda, que as palavras que falam do amor desrealizem a vida, fazendo surgir a súbita presença da fantasia, falo assim, porque, a bem da verdade, o coração do amante nunca faz o que a mente ordena, sempre foge e se aninha nos braços do sonho e da fantasia.

Quem diz o contrário?

(Da obra: Súbitas Presenças de Sônia Moura)

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