APENAS PALAVRAS

 APENAS PALAVRAS

Apenas Palavras  (Sônia Moura)

Chove bastante lá fora e em meu coração também, comprova Maíra. Tudo nublado, triste, sombrio, apenas as gotas que escorrem pela vidraça, exibem um toque de beleza e alegria, quando a luz artificial bate sobre elas e as transforma em contas multicores. Enfim, o que traz beleza à cena é nascido do artifício, assim como é totalmente artificial o amor que ela vive neste momento. Ela fecha seu diário e se põe a devanear sobre o poder das palavras.
Se eu pudesse, transformaria minhas palavras em aves com seus bicos pontudos, e pediria para que elas puxassem os sete véus que escondem as artimanhas do amor, só então eu poderia ver em que caminho o verdadeiro amor se esconde.
Se eu pudesse, mandaria minhas aves – palavras, com seus olhos argutos, voarem por aí, para encontrarem as ternuras perdidas e trazê-las de volta, ao invés de as deixarem soltas no meio deste furacão, onde sentimentos são desmantelados e jogados ao léu.
Se eu pudesse, daria asas às minhas palavras, para que elas sobrevoassem os oceanos, até encontrarem um porto seguro para eu aportar e lá ficar a contemplar mansamente o infinito.
Se eu pudesse pediria que minhas palavras me levassem em suas grandes asas para visitar estrelas e outros céus, até eu encontrar um lugar, onde me fosse permitido sonhar.
Maíra apaga a luz, as gotas perdem o brilho, enquanto ela vai dormir, desejando que aquele amor artificial também se apague de sua vida.
No fundo, ela sabia que este desejo era forjado apenas por palavras sem asas.

(Da obra: CONTOS & CONTAS de Sônia Moura)

APENAS PALAVRAS

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *