AZUL, TUDO AZUL

 AZUL, TUDO AZUL

AZUL, TUDO AZUL (Autoria: Sônia Moura)

Um azul cruelmente belo surgiu na escuridão e transformou aquele momento em um instante sereno, mesmo que se pensasse ser inconciliável aquela tristeza e o azul profundo, era o que estava acontecendo ali.

O que estava em jogo era uma velha e repetitiva história, tão comum e tão rara, mas Andressa, a maga, sabia que a roda do destino iria dar solução àquela velha e, paradoxalmente, inusitada história.

 Mexendo uma infusão de flores, raizes e folhas, Andressa procurava afastar a sombra do passado, tentando apagar antigas imagens que teimavam em reaparecer, refletidas no azul que o espelho reprisava.

Os laços de amor entre Rui Calvera e Flora Molina foram desfeitos dias antes do casamento por causa de uma coruja, que aparecera na porta da mansão dos Calvera. Bem, era o que todos diziam.

Supersticiosos ao extremo, os Molina acreditavam que esta aparição era um sinal de mau agouro, este casamento estaria fadado ao fracasso. E, pensando assim, resolveram que era melhor prevenir que remediar.

Excessivamente dominado por seus pais, Rui seguiu as determinações destes, embora sofresse horrores, uma vez que adorava sua Flora e a noiva parecia que ia morrer, tamanha a tristeza que se apossou do seu amargurado coração.

A superstição popular diz que as corujas adivinham a morte com o seu piar e esvoaçar, mas, por outro lado, a coruja também é considerada o símbolo da inteligência, da vigilância, da meditação e da capacidade de enxergar nas trevas. Eis o enigma da simbologia.

Assim, tal qual uma coruja, a maga Andressa, que enxergava no meio a trevas da ignorância e podia avaliar muito bem o sofrimento causado pela perda de um amor, resolveu dar uma mãozinha aos amantes.

Foi à casa do rapaz e ofereceu-lhe uma xícara de um saboroso chá e um poema, com uns versos que diziam assim: “Meu coração não quer libertar-se do seu amor/ Meus olhos jamais dirão adeus ao seus/Pois nossos destinos foram traçados pelos céus/E jamais conseguiremos nos dizer adeus!”

Para a moça, a maga levou um ramo de flores muito aromáticas e uma imagem de Cupido, com a seguinte inscrição: “A vida será mais bela, se meu prêmio for o seu coração.”

Depois desta visita…

Foi-se embora o sofrer, os amantes resolveram abrir seus corações e suas mentes, deram vez ao amor, despacharam a dor, isolaram as superstições e as dúvidas, romperam com o mundo da escuridão ao consumarem o seu amor.

Foi assim que um azul intenso apagou de suas vidas o fatídico dia, em que a aparição de uma coruja quase tomou o lugar da magia da felicidade.

Até hoje todos dizem que tudo foi obra da magia de Andressa, porém ela nega tudo. Sorri e diz faceira: obra de minha magia? Qual nada, isto foi obra da poesia e do Amor.

 

(Do livro: Coisas de Mulher, de Sônia Moura)

 

 AZUL, TUDO AZUL

 

 

 

 

 

 

Um comentário sobre “AZUL, TUDO AZUL

  1. Maria regina Nina Rodrigues disse:

    Sonia,felicito você pelo modo mágico que o conto “Azul tudo Azul” foi produzido”. A força do amor é forte e sensibiliza os corações que nela acreditam. Maria Regina.

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