O IMPONDERÁVEL

O IMPONDERÁVEL

O IMPONDERÁVEL  (Autoria: Sônia Moura)

 

Era mais ou menos como estar isolado em uma ilha, Alice estava só em seu mundo, em sua ilha, presa ao imponderável.

Imersa em seus pensamentos, imaginava Ramiro nos braços da outra, não haveria testemunhas, havia somente a solidão a brincar, libertina, com os sentimentos alheios, enquanto o olhar de Alice vagava pela fantasiosa ilha dos amores, de todos os amores pintada em sua memória, em seus mais belos sonhos.

Embora quisesse seguir o seu caminho, Alice sempre se afastava dele, pois em sua linha da vida só a figura de Ramiro parecia desenhar o seu destino, ainda assim, algumas vezes e sem muita convicção, a mulher tentara livrar-se da tatuagem incrustada em suas lembranças, mas estas foram tentativas vãs, ainda que tentasse, a moça não conseguia apagar as profundas marcas do passado, não conseguia libertar-se da prisão sem grades onde se metera e de onde não conseguira mais sair.

O mundo rodava tão devagar, pensava Alice, enquanto sua cabeça rodava muito depressa, mas para ela nada saira do lugar,desde que o seu amor partiu, sem dizer adeus. Em seus pés, uma imensa bola de ferro, também invisível, a imobilizava mais ainda, evidenciando aquele surreal prisão concedida e negada.

Era preciso fugir daquela clausura em que se metera, mas como se ela ainda sentia que aquela dor era essencial para que pudesse continuar sentindo-se viva? Mas como se aquela estranha sensação confundia-se com a evidente verdade: ela precisava voltar à vida, de fato, mas não queria livrar-se da presença de Ramiro?

Em seus pensamentos, setas apontavam para várias direções, bastava que ela escolhesse uma delas para fugir dali, Ariadne tinha deixado seu fio, portanto Alice deveria seguir por ele e encontrar a saída do labirinto.

Mas a amargura e dor plantadas em seu coração dificultavam a escolha de um caminho e, assim, na obscuridade total, Alice inundava seu silêncio com palavras rudes, com as quais desejava manchar a imagem daquela que a deixara, mas, sem permitir que ele sumisse de sua vida, sem deixá-lo partir para sempre.

A cada tentativa, uma nova recaída, e lá ia Alice refugiar-se no seu fantasmagórico país das maravilhas, escondido no oco de sua mente. Isolara-se do mundo real e criara um mundo de angústia e fantasia, no qual um lindo castelo lhe servia de abrigo e reforçava a sua solidão.

Encerrada em si mesmo, Alice só conversava com os seres imaginários do seu país das maravilhas e só transportando-se para este mundo ela podia sonhar, lá ela podia fazer uma condensação expressiva dos melhores dias de sua vida de outrora e revivê-los a hora que ela bem entendesse .

O tempo foi passando e Alice não viu que a erva daninha crescia ao redor de seus sonhos e os sufocava lentamente, e, junto com a morte de seus sonhos, o castelo construído por sua solidão ia desmoronando aos poucos e, no final desta história, o seu mundo tornou-se totalmente escuro, ninguém mais habitava o seu país da fantasia e Alice acabou seus dias sozinha.

 

Do livro: COISAS DE MULHER de Sônia Moura)

 

 O IMPONDERÁVEL 

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