POEMA PÓS-TUDO – AUGUSTO DE CAMPOS – PARTE V

 POEMA PÓS-TUDO – AUGUSTO DE CAMPOS – PARTE V

POEMA PÓS-TUDO – AUGUSTO DE CAMPOS – PARTE V

(Autoria: SÔNIA MOURA)

 

Concluindo…

 

O poema  PÓSTUDO  de Augusto de Campos traz a marca da modernidade  quando faz a mímese  da  linguagem pela desarticulação da palavra, a qual deixa de ser  fundamental e o que prevalece é a imagem; por isto mesmo, é uma  representação  poética  típica  do movimento concretista.

            A questão  ideológica está presente  no jogo lingüístico, quando a palavra  comum é colocada dentro de um caleidoscópio e variações infinitivas surgem, dependendo da leitura feita por cada um.

            O poema reflete a identidade de dois universos paralelos, vistos por um olho que se abre num foco e visualiza TODOS e TUDO. O processo de montagem, remontagem e desmontagem vai extrair da aparência das palavras os seus significados mais profundos, revelando o que há por trás do véu das significações, e estas, “soltas”, se recompõe e se fragmentam na página. Qualquer que seja a leitura feita deste poema, feita deste poema, vamos perceber que está em foco o confronto MODERNISMO (CONCRETISMO) x PÓS – MODERNISMO.

O título “PÓSTUDO” está diluído dentro do texto, e a “intenção” irônica, crítica, elogiosa, confissional ou intertextual só será definida pelo enfoque dado por cada leitor ao conteúdo do texto, enquanto a palavra – chave do poema (TUDO) espalha-se por toda a composição, logo, é preciso manuseá-la e as outras palavras, para podermos alcançar todas as possibilidades expressivas do poema.

            A palavra TUDO não dá ganho de causa a ninguém, não exclui ninguém, quando este vocábulo traz as marcas significativas e abrangentes da palavra TODO, que, no português antigo, traduzia simultaneamente: TODO e TUDO. No entanto, podemos dar uma “certa vantagem” ao Pós – Modernismo, já que, entre os dois, é ele que declaradamente aceita TUDO e TODOS no seu reduto.

            A palavra EIS representa uma das leituras fonéticas do prefixos EX-. Quando a empregamos, é como se a pessoa ou coisa, com que se utiliza tal palavra, fosse tirada de um TODO, de um grupo, de uma posição, de uma situação. Desta forma, pode-se aplicar a ela a mesma significação do prefixo latino ex- para exaltar o CONCRETISMO ou o PÓS – MODERNISMO.

Os prefixos PÓS- / EX- estão colocados em oposição simétrica, isolados num compartimento, sendo empregados com a ausência  do hífen. Este isolamento coloca no mesmo espaço temporal: o que veio antes (EX- = Concretismo)e o que veio depois (PÓS- =Pós – Modernismo).

            Quis, mudar, mudei, mudo, mudo, mudarei, mudaria – as formas verbais, explícitas ou implícitas, nos conduzem a entender que há o deslocamento do eu – lírico , transformado em eu – lírico crítico, que não é só do poeta, é também do leitor, daí pluralizar – se e colocar como elo entre os diversos sujeitos: o sujeito – leitor, sujeito – autor, sujeito – objeto, assim, por estas relações, percebe – se que há um intercâmbio entre o Moderno e o Pós – Moderno, dissolvido na mensagem do poema analisado.

 

BIBLIOGRAFIA

CAMPOS,Augusto.Póstudo.  Folhetim da folha de São Paulo, 27 janeiro de 1985.

 ——————-. et alii –Teoria da Poesia Concreta. SP: Invenção, 1965.

HABERMAS, Jurgen, et alii – Modernismo, Pós-Modernismo e Anti- modernismo. Arte em Revista, Ano 5 nº7, 1983.

LYOTARD, Jean- François. O Pós-Moderno. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985.

 

 

 

 

 

 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *