POEMA PÓS-TUDO de AUGUSTO DE CAMPOS – parte III

POEMA PÓS-TUDO de AUGUSTO DE CAMPOS – parte III

(Autoria: Sônia Moura)

 

 Modernismo x Pós – Moderno  

Modernismo x Pós – Moderno 

            Enquanto os modernistas eram a imagem da EXALTAÇÃO, os pós – modernos são a própria EXAUSTÃO.

          A arte Moderna tem total liberdade criadora, é inovadora; a arte Pós – Moderna tem isto e muito mais, por esta razão foi ”batizada” como ANTIARTE. A primeira caracteriza-se pela INTERPRETAÇÃO; a segunda, pela APRESENTAÇÃO.

         Antes, o Modernismo hermético afasta inicialmente o público; agora, o Pós –Moderno pasticheiro convida o público a participar desta apatia, convida-o a sentar-se na cadeira de balanço.

         O Modernismo precisa de afirmação para os seus conceitos e para a sua arte, o Pós-Moderno não quer auto – afirmar – se ou afirmar nada e ele nada – tudo  quer; todos são bem – vindos, esta é a ordem da desordem.

         A fantasia, o exagero, o humor sempre são boas companhias para o artista Pós – Moderno, que é um seduzido; o artista Moderno tinha pretensão de sedutor.

         O poeta Moderno queria a linguagem do cotidiano, o Pós-Moderno é a linguagem coloquial, cotidiana ou, até mesmo, clássica.

         Os modernistas entrincheirados bradam, levantam bandeiras, escandalizam, cutucam a consciência, se aprofundam no inconsciente; os pós-modernos não gritam, não carregam sequer pequenas flâmulas, não escandalizam nem se escandalizam.

 

II– DE CORPO INTEIRO (Um Depoimento)

         Foram muitas as bandeiras-revistas, bandeiras-manifestos, bandeiras-vanguardas. Foram muitos os clamores de vozes sábias, lógicas, ilógicas, ensandecidas, revoltadas, traduzidas em prosa e em verso, marcadas pelo desejo de mudança ou de retomada de valores.

         Pouco a pouco, as vozes se calaram. Açoitadas pelo vento do desencanto, rasgaram-se as bandeiras, desbotaram-se as suas cores, mutilaram-se os seus símbolos. Acabou a passeata. Vieram a desilusão e a angústia.

         Houve uma época que o tempo passava lento e o mundo veloz; hoje, o mundo passa veloz (passa?), e o tempo também. E assim prosseguiremos: “caminhando contra o vento sem lenço nem documento”.[1]

         A política, o saber, a cultura –  tudo mais é manipulado pela égide perpétua do poder. A força do poder vai minando resistências, tornando quase perdidas algumas batalhas travadas (sempre fica alguma vitória), destruindo intenções, bloqueando vontades e envelhecendo novidades. Surge daí o desencanto, gerando a apatia coletiva que leva ao isolamento e se transborda em arte, transparece sem formas ou rótulos.

        Os moldes não existem, porque não existe mais referencial; não existe mais luta, porque não existem mais motivações. Instala-se o caos ideológico. Então, por que e para que lutar?

          A vida agora é um poema de pés quebrados. Apoiados em muletas, desalentados, os novos artistas não querem a guerra e nem pensam na paz.

           O que posso fazer? pensa o poeta e descobre que só há um caminho – desnudar-se através de sua arte.

           Para que buscar neuroses? Não faço planos, não apresento propostas, não sou humilde, nem corajoso – SOU FRAGMENTOS – e assim, sou um objeto em exposição pelo que escrevo.

            Quem conseguir juntar as pedras deste mosaico, dividirá comigo o banquete da minha arte.

              Sou o resultado da descrença do homem em relação aos valores existentes. Sou o resultado das lutas inglórias.

             Cansado, desiludido, surge um homem que não tem vontade de continuar em blocos; e assim; o homem dissolve-se em fragmentos;

            Sendo individual, o homem vive a ilusão do consumismo coletivo.

TODOS usam as mesmas marcas de roupas, sapatos, carros, bebidas; a mesma versão das notícias é assimilada por quantos estiverem ligados naquela emissora; TODOS têm a mesma febre de consumo; TODOS dançam e cantam a mesma música.

            O resultado é um homem feito de cacos. Um fragmento deste homem brilha, reluz, se ama, quer prazer; o outro fragmento é simples marionete nas mãos da tecnociência. Assim, o homem deixou de tomar posições, deixou o foguete Moderno do “OU” e sentou-se na cadeira de balanço do Pós-Moderno “E”.

           A imagem e o som da televisão vendem televisão, cigarros, casas, esperança, amor, sonhos – Vendem TUDO.

            O homem pós-modernos não quer brigar ou contestar. Se ou quando não concorda, agrupa-se em pequenas entidades e dentro de sua comunidade, tenta resolver TUDO.

             TODOS sabem (fragmentariamente) de TUDO e sobre TUDO.

             TODAS as artes riem de TUDO.

             Religião, história, filosofia, consciência social, o homem pós-moderno deixou à parte isto TUDO.

             TODOS compram TUDO.

             Vale o presente, o passado, o futuro (na arte), na vida; só vale o presente que é TUDO.

             A sátira, o pastiche e a (des)esperança, isto é TUDO.

             A simulação (valorização da imagem no lugar do objeto) nem pensa estar levando vantagem em TUDO.

             o “DES” é o deus de TUDO.

             Eu sou PÓS-MODERNO – eis TUDO.

(Autoria: SÔNIA MOURA)

 Modernismo x Pós – Moderno

[1] Caetano Veloso  ALEGRIA, ALEGRIA

 

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