MÁSCARAS NEGRAS – Fundamentações e Significações

 MÁSCARAS NEGRAS - Fundamentações e Significações

MÁSCARAS NEGRAS  Fundamentações e Significações

(Autoria: SÔNIA MOURA)

           As artes africanas apreenderam plenamente o significado mais profundo das máscaras ao fazerem destas um instrumento que desenha a trajetória do homem do nascimento à morte. Uma de suas artes, a máscara não traduz a emoção do indivíduo, porém, ao buscar através dela a constância das emoções e sua universalidade, o particular passa a ser  compreendido e superado, e, desaparece para dar lugar ao universal, pois, por sua natureza, a máscara apresenta ligações com necessidades psicológicas básicas, comuns a todos nós.

              O elemento motivador mágico-religioso das máscaras está ligado às necessidades da vida cotidiana, mas nas artes e nos usos africanos, a máscara  serve, especialmente, para permitir ao homem conviver com a multiplicidade da vida e para que ele possa criar novas realidades, desta forma  poderá ser  homem, espírito, bom, mau, animal, divindade. Dar  voz a metamorfoses simbólicas,  este é o poder transfigurador da máscara.

              Ligado às forças misteriosas, o uso ou o culto das máscaras para os povos africanos propicia a capacidade de modificar a realidade e a evolução humana, penetrando no mundo sagrado de seus antepassados (humanos ou animais) e conectando-se com eles, transformando o mundo complexo e hostil em um mundo menos hostil.

              A máscara permite a participação e a exploração, quando une a comunidade inteira como um único corpo em torno dela, quando da sua representação o grupo “fala” a mesma língua simbólica e complexa, que só pode ser interpretada por iniciados.

              Para o africano a máscara é toda a indumentária, portanto pode ser um pingente com o rosto de um antepassado ou para proteção, pode ser apenas um acessório para ser mostrado em reuniões de iniciados, pode ser vestida, colocada sobre o rosto, como capacete ou como “amuleto”. Unindo máscara, dança e ritmo, o africano representa na máscara a essência do universo, o ponto mágico de contato e de participação do homem com a natureza, ao dar a mesma além da forma, movimento e ritmo.

 

É assim que se faz  (ou melhor …se fazia)

          A arte étnica das máscaras africanas tem por princípio básico a estética, é, sobretudo forma de expressão, vem de dentro para fora do indivíduo, é “invenção”, “criação” e não mera imitação da natureza, uma vez que é arte mediadora entre os mundos natural e sobrenatural.

Regras preciosas, ritos e atos são observados na feitura das máscaras, já que estas guardam a essência mágica. Para confeccioná-las é preciso ter autorização do chefe religioso da  aldeia, que por seu reconhecido poder político (pode ser chamado “feiticeiro”) e, entre suas funções, está a de “chefe das máscaras”, ele  preside todas as reuniões de ordem ritual em que a máscara aparece e dirige todo o cerimonial.

              Madeira, pedra, marfim, metal, técnicas de fusão de materiais, cinzel e incisão são materiais e técnicas usadas  na criação das máscaras, mas o principal material é a madeira, pois é mais fácil de ser encontrada, porém, nem todo tipo de madeira pode ser usada na confecção da máscara, seja por limitações rituais, seja por qualidades negativas atribuídas a certas plantas ou pela qualidade da própria madeira.

              A madeira deve ser fresca, pois a madeira mais velha é mais difícil de ser trabalhada e também pode rachar ao secar, tornando-se inútil para o entalhe. Ao encontrar a madeira adequada à criação da máscara, o escultor deverá transportá-la para um lugar isolado e protegido dos olhares indiscretos ou curiosos, fazer alguns rituais e ficar em uma certa forma  de  “isolamento” até concluir sua obra. Os instrumentos que ele utiliza na fabricação da máscara são, por vezes, construídos por ele mesmo, uma vez que estes são considerados objetos de caráter sagrado, e em alguns casos a eles são ofertados sacrifícios.

              À noite, o escultor (que pode desempenhar outra atividade – por exemplo – a de agricultor) volta à aldeia, esconde, junto ao chefe das máscaras, sua obra inacabada ou o seu modelo e, ao alvorecer, volta ao seu refúgio.

              Após o entalhe, o escultor usará folhas rugosas, cipós, tiras de pele de animais, areia, pedras ou fragmentos de osso, para lixar a peça; a cor será dada pelo emprego de corantes vegetais obtidos com folhas maceradas, pela imersão na lama ou pelo escurecimento a fogo. O lado decorativo aparece pelo acréscimo de materiais heterogêneos como dentes, chifres, pêlos, conchas, fibras vegetais, espelhos, miçangas, sementes, pedaços de metal e faixas de tecidos. A decoração é muito importante pois intensifica de modo dramático a expressividade  e o profundo sentimento mágico e sagrado ,  intrínseco ao objeto.

              Ao finalizar a feitura da máscara, o proprietário ou o chefe das máscaras deverá conservá-la em lugar seguro e protegido (às vezes, quem desempenha o papel de guardião é o próprio artista), e a máscara só sairá deste local para os devidos usos.

              Quando o dono da máscara morre, ela passa para um herdeiro (fica em família) ou passa para um sucessor da mesma sociedade secreta e, quando uma máscara perde o seu poder, ela deve ser substituída, porque não pode mais ser utilizada. Cabe ao artista (escultor) submeter-se ao rito de purificação, conseguir o material adequado, enfim, cumprir todo o ritual de feitura da nova máscara.  Uma breve cerimônia deverá marcar a passagem do espírito da máscara velha para a nova e sua primeira aparição em público deverá ser festejada e os presentes lhe oferecerão donativos e reconhecerão seus valores, inclusive os estéticos.

                Se é um privilégio ser o portador de uma máscara, também designa a este obrigações e sanções, pois seu prestígio conferirá à máscara o mesmo prestígio, podendo aumentar ou diminuir – lhe o valor. A diminuição do valor poderá levar à destruição da máscara, pois esta perde o seu valor ritual e o mesmo acontece à máscara danificada. No entanto, o tempo e a idade são elementos que lhe dão maior força sagrada, pois esta foi herdada pelas diversas gerações, que lhe transmitiram o que tinham de melhor.

              O mesmo vale para o artista, quando não é autodidata deve fazer seu aprendizado com um artista reconhecido, isto “aumenta” o valor de sua obra. Sua liberdade de invenção é limitada, pois deve seguir os princípios básicos impostos pelas tradições.

 Esta forma de  criação   coloca o artista  em contato com forças sobrenaturais, este contato confere riscos a esta posição, mesmo assim o escultor se sente um eleito e tem  muito orgulho do seu trabalho artístico. Ele desfruta de uma posição privilegiada, mas provoca certo temor, por usa capacidade de criar formas que têm ligação com o sagrado e com qualidades sagradas, ou seja, cria instrumentos de poder.

              A arte africana sempre teve uma função eminentemente social, era entendida como um meio de ensinamento e motivação de existência cotidiana e metafísica do homem, explicando o sentido da vida e indicando a posição correta dentro do grupo, assim, em manifestações artísticas: iniciações, atos da sociedade secreta, ritos fúnebres e agrícolas, cerimônias públicas, as máscaras eram a síntese da arte e da narração dialógica entre o homem e o mundo visível e invisível. 

 

[Apresentação – UFF – 2005]

MÁSCARAS NEGRAS - Fundamentações e Significações

4 comentários sobre “MÁSCARAS NEGRAS – Fundamentações e Significações

  1. ANA BEATRIZ DIAS disse:

    KI BOOOOOOOOOMMMMM!!!!!!!!!!!!!ACHEI O MAXIMO SOBRE ESSA COISA DE MASCARAS AFRICANAS !!!!E MO MASSA !LEGAL PO!!!!!!!

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