CONTOS DE FADAS III

 CONTOS DE FADAS

Contos de Fadas – III  (Autoria: Sônia Moura)

 Uma brevíssima leitura de alguns contos de Marina Colasanti

 Marina Colasanti nasceu em Asmara, 26 de setembro de 1937. É uma escritora e jornalista ítalo-brasileira nascida na então colônia italiana da Eritréia. Ainda criança sua família voltou para a Itália de onde emigram para o Brasil com a eclosão da Segunda Guerra Mundial.

No Brasil estudou Belas-Artes e trabalhou como jornalista, tendo ainda traduzido importantes textos da literatura italiana. Como escritora premiada e consagrada, publicou 33 livros, entre contos, poesia, prosa, literatura infantil e infanto-juvenil.

 Destacamos das obras A Moça Tecelã e Uma Ideia Toda Azul, alguns contos, para fazermos uma brevíssima, mas profícua leitura.

 Os contos infantis ou infanto-juvenis escritos por Marina Colasanti geralmente exploram abertamente os conflitos emocionais, coisa que os Contos de Fadas tradicionais também o fazem, de uma maneira ímpar, e nestes contos, os conflitos são subprodutos da linha de “importância analítica imediata”, pois como se sabe, do ponto de vista da filosofia analítica, o único fim a alcançar é a superação ou a eliminação do dolo ou da ilusão.

 

Ao lermos o Conto de Fadas – Branca de Neve -, nos comovemos com a bondade desta e a maldade de sua madrasta nos amedronta e causa revolta, mas não percebemos imediatamente que este conflito (bem/mal) nos acompanha ao longo de nossas vidas.

Já nos contos de Marina Colasanti, embora os elementos mágicos sejam retomados em suas raízes e em suas origens, os maiores conflitos experimentados pelo homem – o isolamento e a solidão – acompanham as personagens em todos os contos, reforçando a idéia da “busca de si mesmo”.

Outro detalhe importante a ser destacado é a ausência de diálogos, acentuando o fluxo da consciência, e esta ausência serve para corroborar com a ideia da solidão imposta ou “escolhida”, que vai atuar nos contos de Marina Colasanti como provocadora do autoconhecimento.

Um bom exemplo da dificuldade de o homem conviver com o isolamento e a solidão, pode ser visto neste Conto de Fadas moderno – A Moça Tecelã de Marina Colassanti – nele a narradora nos mostra o di-a-dia de uma moça que tece tudo que a imaginação pode tecer. Tece suas alegrias, tristezas, sonhos, fantasias, realidades…

Mas como é muito difícil a relação entre o ser e a solidão, a moça tecelã começa a se sentir muito sozinha, embora tenha tudo o que deseja, pois ela tece para si mesma, satisfazendo suas vontades, então, a moça tece um marido, mas este, logo a decepciona, pois tem planos bem diferentes dos sonhos e desejos da moça solitária.

A moça pensa, pensa e descobre que não está satisfeita e resolve destecer o marido, voltando a ser sozinha e à sua vidinha anterior, sem ser infeliz, ou seja, encontrou-se a si mesma.

Em muitos contos, o papel conferido à mulher serve para destacar as esferas ligadas à independência feminina, à liberdade, ao poder da escolha daquilo que a mulher deseja ser, destacando, assim, a mulher moderna, independente e atuante. Para exemplificar, vamos destacar dois contos desta autora: Entre as Folhas Verdes e Sete Anos e mais Sete.

Interessantíssimo é o poder conferido à mulher, no que diz respeito ao uso de sua sexualidade, este é conseguido quando a mulher enfrenta o jogo da repressão, seja ela imposta pelo poder paterno ou pelo temor de exercitar plenamente sua sensualidade, temor este nascido da censura moral – sua ou dos outros.

Assim é que, nestas histórias, ao jogo da repressão opõe-se o jogo da independência e esta dualidade, instigada por símbolos e mitos, dá aos contos de Marina Colasanti ares de antigo e de moderno. Exemplificando com estes dois contos: Por Duas Asas de Veludo e Um Espinho de Marfim.

 (Parte III – Trabalho apresentado em Seminário – UFF/2002)

                                                                                             CONTOS DE FADAS


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