TEMPO! TEMPO! TEMPO!

CHICOTES DO TEMPO

TEMPO! TEMPO! TEMPO! [por Sônia Moura]

 

A passagem do tempo é metáfora

Ainda assim, o novo ano não há de tardar

Há uma cadeia com elos de esperança a se formar

Quantos divinos encantos se esconderão nesta corrente

Que todas as gentes se põem a desejar?

Faz parte da arte de quem segura este estandarte

Assim, envolvidos pela fantasia

Todas as gentes seguem cumprindo seus destinos

Penetrando nas raias da ilusão, da crença e da paixão

Tempo, menino vadio, que corre macio sem se preocupar

Porque ele sabe que não vai mais voltar

Sua presença é pedra rara, tão fugaz como qualquer ficção

Abelha que suga o mel e depois procura outra flor

Como um mago nos pega pela mão e encanta

E, sem nenhum pudor, amputa certezas, acalma as brabezas

Tempo, todo faceiro, exibe sua nobreza com altivez

Fingindo nos dar a lucidez do controle impossível

Do seu flutuar,

Tempo, tempo, tempo!

Entre o ontem, o hoje e o talvez

Doce quimera a brincar com as gentes

E a visão de todos loucamente turvar

 

Da obra: Poemas em Trânsito, de Sônia Moura

 

 

POR UM FIO

3d man hanging by a thread

3d man hanging by a thread

POR UM FIO (por Sônia Moura)

 

Num rio

Que corria

Para outro encontrar,

A ilusão,

Pendurada

Por um fio,

Sustentava

O meu desvario

Antes que o dique

Fendido da esperança

Se rompesse em lágrimas

Como um rio

 

[Da obra: POEMÁGICA]

 

BOLSA DE MULHER

bolsademulher

BOLSA DE MULHER {Autoria: Sônia Moura}

 

Cabe tudo dentro de um traço

De união

Cabe tudo dentro de um apertado laço

De afeto

Cabe tudo dentro de um grande abraço

De carinho

Cabe tudo dentro do coração

De alguém sem um ninho

Cabe tudo dentro do sonho

Da nossa eterna criança

Cabe tudo dentro de qualquer fantasia

De carnaval ou de um conto antigo

Cabe tudo dentro do olhar

De um grande amigo

Cabe tudo dentro de um sorriso

De alguém que nos dá abrigo

Cabe tudo dentro de um segundo

De paixão

Cabe tudo dentro de um único dia

De alegria

Cabe tudo dentro de um aperto de mão

De cortesia

Cabe tudo dentro de uma noite

De prazer e boemia

Cabe tudo dentro da luz das estrelas vista

De uma janela sombria

Cabe tudo dentro de todos os cantares

De louca magia

Cabe tudo dentro de uma palavra

De amor

Cabe tudo dentro do silêncio

Da dor

Cabe tudo dentro de um amanhecer nos braços

Da pessoa querida

Cabe tudo dentro de um anoitecer depois

Da eterna lida

 

(Mas …

Quer saber de verdade,

Onde cabe tudo mesmo?

Quer mesmo saber?)

 

Tudo cabe dentro da bolsa

De uma mulher

 

[Da obra: COISAS DE ADÃO e EVA, de Sônia Moura]

PEQUENO GLOSSÁRIO “AMOROSO”

Cansei de califasias

Porque tudo o que tu fazias

E com lágrimas nos olhos me dizias

Me levaram a crer que estavas bajoujo

Depois tive a certeza de que

Com certeza,  a bajouja era eu

 

Mas um dia sua máscara caiu

[Ou foi a bajouja que só agora viu?]

Até me deu vontade de me desventrar

Para o meu sofrimento acabar

 

Embora, de certa forma,

Tu ainda estejas a me bajoujar 

E sempre que podes, com resiliência,

Tentes se chegar,

Recompondo-se par em par

Porque tu bem sabes que

Devagar, poderás um dia me “recuperar”

saudadeamor

 

Pequeno glossário amoroso

1 –califasia – Arte de pronunciar as palavras com elegância.

2– bajoujo- 1- Que ou quem está perdido de amores. 2-  Que ou quem mostra pouco discernimento ou pouca inteligência  = parvo, tolo.

3- ba·jou·jar – 1. Lisonjear servilmente. = adular, bajular. 2. Animar; acariciar.

4- desventrar- Rasgar o ventre de; estripar. 

5- resiliência- 1. [Física]  Propriedade de um corpo de recuperar a sua forma original após sofrer choque ou deformação.

  1. [Figurado] Capacidade de superar, de recuperar de adversidades.

 [Da obra: Coisas de Adão e Eva, de Sônia Moura]

 

 

 

 

 

HORAS NUAS

recordação

HORAS NUAS [Sônia Moura]

Quando me pego

Em lembranças tuas

Mesmo sem querer,

Tento te deixar partir.

Difícil é continuar a sorrir,

Enquanto a vida cambaleia

E se esvai, noite e dia, em horas nuas

 

(Da obra: Poemágica)

NA CURVA DO ANZOL

 

FELICIDADE-ANZOL

NA CURVA DO ANZOL (Sônia Moura)

Presa na curva do anzol
A felicidade piscava para mim
Já sangrava, mas ainda assim,
Mais forte que a esperança
Resistia e me fazia resistir
Tinha toda razão,
Se presa nas garras do anzol
Ela não sucumbiu
Ainda que me ronde a desilusão
Eu também não vou desistir

(Da obra: Coisas de Adão e Eva)

ACORDA, ALICE, ACORDA!

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ACORDA, ACORDA, ALICE! [por Sônia Moura]

Sofrida, enfurecida, ferida,

Como uma fera encurralada

Urrei baixinho

Tentando sufocar a dor.

 

Depois …

Em pedaços de raiva

Rasguei o seu retrato,

Lancei-me em meu mar de lágrimas

Afoguei-me, afaguei-me, mas salvei-me

E sobre meu pranto adormeci.

 

Acordei sobre um mar sereno,

Senti como se um novo mundo

Se abrisse

E, agora,

A cada minuto

Uma voz escuto

A me alertar:

– Alice, Alice, é hora de acordar!

 

[Da obra: Coisas de Adão e Eva]