O CAVALO (Autoria: Sônia Moura)
O cavalinho Maneco
Andava pra baixo e pra cima
Carregando seus cacarecos
E dizia pra todo mundo
Que achava a vida boa
Gostava de uma festa
Gostava de trabalhar
Gostava de namorar
Só não queria mesmo
Seus trecos abandonar
E assim lá ia o Maneco
Para lá e para cá
Carregando seus cacarecos
Sem deles se desligar
“- Maneco, você é cavalo,
E não um burro de carga,
Para tralhas carregar”
Diziam os amigos
Para o cavalo teimoso
Mas este não dava bola
E continuava pelo mundo
Seus troços arrastar
Quando ia ao cinema
Ao baile ou ao mercado
Maneco nunca deixava
Seus pertences de lado
Ele nunca se queixava
Do peso que carregava
Ia pra baixo e pra cima
Andava por todo lado
A arrastar ninharias
Que nem ele percebia
Já não valiam mais nada
Um dia, destes estranhos,
Em que o sol se escondia atrás da lua
Sabe-se lá muito bem o porquê
Maneco acordou estranho
Saiu correndo pela rua
Sem um trequinho sequer levar
Daquele dia em diante
Maneco ficou livre
Do peso que transportava
E agora era o preferido
Da garotada do bairro
E levava pra lá e pra cá
A molecada pela rua
Todos riam e brincavam
E viviam muitos felizes
Enquanto Maneco cavalgava
Com as crianças em seu lombo
Trotando devagarinho
Para ninguém levar um tombo
Até hoje, as boas e as más línguas
Dizem que foi o beijo que a lua
Naquela manhã festiva
Deu na bochecha do sol
Que libertou o Maneco
Daquela mania cruel
De arrastar pelo mundo
Aquilo que não mais prestava
E a partir daí
De cavalo muito cansado
Num cavalo mais alegre
Maneco se transformou
(Do livro; Brincadeiras de Rimar de Sônia Moura)