A Porta se abriu… (Autoria: Sônia Moura)
Era como se Elka estivesse em pleno deserto, um calor insuportável, a boca seca, a sede e a solidão consumindo suas entranhas. Sozinha, era assim que se sentia, embora bastasse olhar pela janela para ver o mar de gente que seguia em direção à praia, para assistir a um show.
A noite vinha chegando com seu vestido de tule azul acinzentado, quando, de repente, um pássaro pousa em sua janela e começa a entoar uma suave canção.Pôde observar que a ave trazia um guizo dourado preso na perninha direita. Seria ele um pássaro ensinado?
O canto parou e ela ouviu uma voz mansa, a dizer-lhe baixinho: – Levanta daí, anda, o mundo te espera! Estaria delirando, pensou Elka, ali só estavam ela e o pássaro com o guizo dourado, então aquela voz só podia ser do passarinho amarelo.
A moça remexeu-se de um lado para o outro, puxou a coberta, pois a noite já ia alta com seu vestido esvoaçante e seus sete véus dos sonhos.
O tempo passava, o conselho da ave avultava-se e, aos poucos, Elka ia-se libertando de suas próprias garras, dando novos rumos à sua vida. Abriu uma pequena empresa de docinhos caseiros, adoçou sua vida e a dos outros, pintou os cabelos, voltou a sorrir e a cantar.
Elka foi abrindo portas e clareando o seu destino. Um dia, a porta do elevador se abriu e Frank sorriu para ela, a moça devolveu-lhe o presente, e pensou: – Esta porta não fui eu quem abriu.
Outra vez ouviu a voz do pássaro amarelo: -Ledo engano, ledo engano, Elka.
A moça adormeceu entre sorrisos.
(Do livro: SÚBITAS PRESENÇAS de Sônia Moura)