UM DISCURSO SEDUTOR – artista, público e arte [Parte I]

UM DISCURSO SEDUTOR –  artista, público e arte [Parte I]  arte

[AUTORIA: SONIA MOURA]

A arte exibida em praça pública ou na rua é uma  forma de comunicação, que funciona como uma ponte de convencimento sobre a qual transitam sujeitos(artista/público) e um objeto(arte), onde acontece a comunhão que promove as relações entre o discurso do artista popular e seus espectadores, colocando em cena o objeto de desejo de ambos “a arte popular”, transfigurada em produto cultural que, pela fala do artista, tornar-se-á fascínio para a assistência.

É o discurso sedutor do artista-apresentador que se manifesta em meio a singularidades e peculiaridades, mesmo sendo este um discurso eivado de  contradições no campo gramatical, mas que se apresenta de forma extremamente rica no campo semântico do encantamento, funcionando como poderosa arma de persuasão.

Por serem locais de passagem: o Largo, a Praça, a Rua – espaços livres – onde arte e artista se exibem- este locais  suscitam o convite à “correria” dos tempos pós – modernos. Transeuntes, normalmente, não param sequer para olhar o seu entorno. No entanto, nossas observações e pesquisas de campo, mostraram que um número considerável de pessoas, dispostas, quase sempre em círculos ou semicírculos, tendo ao centro o artista e sua arte, param para assistir e participar destas formas de manifestações artísticas.Este público dedica parte do seu tempo livre (às vezes, todo o tempo livre) – por exemplo: a hora do almoço – ou parte do breve tempo de trânsito por estes espaços – para assistir às apresentações.

Quando o espaço público é  ocupado por  artistas e por suas diversas formas de arte mambembe, não há, geralmente, o respaldo de qualquer forma de divulgação (mídia) e sem uma política cultural que os ampare, resta, então,  ao artista > produtor > divulgador > autor >apresentador de seu produto colocar em evidência o recurso discursivo verbal, utilizando-se dele como a melhor forma de divulgação do seu produto, como ponto de atração, de convencimento, de sedução do espectador e como meio de aproximação entre arte/artista/público.

Convém ressaltar que este convencimento e esta forma de atrair o público passante é envolvida por  outras formas de linguagens complementares: gestos, sorrisos, olhares, expressões corporais e , até mesmo, imitações de vozes de animais, e todas estas formas passam a ser coadjuvantes neste/deste espetáculo.

Por outro lado, a divulgação e a “venda” deste modelo de arte acontecem simultaneamente, assim, o artista > divulgador precisa ter maior destreza na fala e convencer o seu público, para que, ao final da apresentação, a platéia não esteja esvasiada e a sua “venda” se realize favoravelmente, o que será visto pelo montante arrecadado por ele ao final de sua apresentação.

Percebe-se, então, que um dos papéis do discurso é feito pela sedução de linguagens diversificadas, que  conduzem a comunicação, assim como nos mostra o legado de Aristósteles, isto é, – a importância dos processos argumentativos – vistos como um conjunto de raciocínios não coercivos, e sim coesivos, sustentadores do discurso e permissores de inferências indutivas e dedutivas, promovendo cumplicidades com o mundo e entre mundos: o mundo do ator e o do seu público juntamente com o mundo da arte; promovendo cumplicidades das gentes e dos gostos, tudo pelos caminhos das sedutoras cumplicidades discursivas.

 

[Autoria: SÔNIA MOURA]   

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