O SONHO

O Sonho

                   (Autoria: SÔNIA MOURA)

Meus filhos e meus netos estão dizendo que eu estava dormindo. Qual! Eu estava sonhando. E que sonho! Sabe, Cleo, era um sonho lindo, mas lindo demais.
Sabe o Alfredo, sabe, é aquele mesmo, lembra dele? Pois é, menina, eu estava sonhando com ele. Ah! Cleo, ele estava lindo. E o sorriso? Menina, estava mais radiante ainda.
Eu ficava olhando para ele com aquela cara de boba, ele era lindo…Se eu era apaixonada? Se eu era apaixonada? Ah! Você só pode estar brincando.
Mas voltemos ao sonho.
Lembra? Ele adorava roupas claras, e como se vestia bem, nossa! No sonho, sabe, ele estava com uma roupa clara, muito bonita, que até parecia brilhar com a luz daquele lugar, cujos reflexos pareciam quadros nas paredes, que davam um ar de mistério ao ambiente.
Alfredo sorria e acenava para mim. Nem sei porque, mas eu relutei um pouco, mas não resisti e fui chegando, até que nossas mãos se tocaram. Senti uma alegria, Cleo, mas uma alegria que não dá para descrever.
Parecia que o mundo se mudara para outro lugar ou era eu que estava me mudando. Eu estava-me sentindo nas nuvens. É, esta era a sensação, eu flutuava.
E já fazia tanto tempo que não nos encontrávamos…
Não sei se eram os meus olhos ou se eram apenas coisas de sonho, mas Alfredo continuava o mesmo, sei lá, parecia também que ele não falava, mas eu compreendia tudo, então, ele me pegou pela mão e fomos caminhando (ou seria flutuando?) por um lindo lugar, senti a sua declaração de amor, e esta penetrou cada poro do meu corpo, entrou na corrente sangüínea, Cleo, e eu pensei que estava tendo um “troço”.
Cleo, agora me diga, por que meus filhos, netos e amigos estão ali chorando e dizendo: Ela estava dormindo! Ela estava dormindo! Era só me perguntar que diria a eles: eu me embrenhei para dentro deste sonho e me perdi, ou melhor, me achei e achei o meu amor.
Cleo, que nariz vermelho é este? Cleo? Está-me ouvindo? Você está chorando? Por quê? Cleo, Cléééééooooo! Desculpa-me, eu sei que minha alegria não está combinando com este ambiente, mas é que eu estou muito feliz!
Que coisa estranha, ninguém fala comigo. Isto é um enterro? Quem morreu? Quem? Alfredo? Você também está aqui? Veio me buscar, que bom! Espera só um pouqinho, quero ver quem está no caixão. Sou eu? Eu? Estranho, ainda assim não consigo ficar triste.
– Já vou, Alfredo, agora sei que está na hora, quero só dar um beijo em meus filhos e netos. Eu sei que eles não vão retribuir, acho que não vão sequer sentir, mas eu preciso me despedir.
Vamos?

(Do livro Súbitas Presenças de SÔNIA MOURA)

Sonho bom

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