Narrando uma história incerta
Para validar uma certa história
Ou quem sabe, uma história certa,
O poeta reduplica o real
Não separa o bem do mal
Bota tudo no mesmo balaio
Dá destaque à fantasia
Porque a fantasia compensa
O abandono e o tédio
E não há outro remédio
A não ser fantasiar
E deixar a vida passar
Com astúcia e leveza.
Assim, este paralisa o tempo
Funde o objeto e o sujeito
Num verso ou numa estrofe
Eterniza o não vivido
Para que no mesmo poema
Brinquem a leveza dos tempos
E a leveza da festa
Cria imagens misturadas
Pastiches de muitos tempos
Pastiches de muitos eventos
E de sujeitos divididos
Tudo transformado em mito
Convida o sonho e a fantasia
Para alagarem o real
Pois ele sabe muito bem
Que a vida é um grande talvez
E que sem margem não há limites
Por isso, andar por extremos
Pode ser tão perigoso
Ainda assim ele se arrisca
Segue em frente, sai da pista,
Cambaleia, se recompõe,
Cultiva em seu viveiro
Palavras e desafios
E, para não dar na vista,
Usa muita alegoria
Mistura tristeza e alegria
Faz da poesia
Seu momento de orgia
E, juntamente, com o deus Baco
Propaga aos quatro cantos
Que a palavra é seu encanto
E que este é o seu “barato”
[Da obra: POEMAS EM TRÂNSITO de Sônia Moura]
Muito bonito!
Obrigada, Márcia, volte sempre. Abraços.