O PRESENTE DE LÍGIA

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O PRESENTE DE LÍGIA


(Autoria: SÔNIA MOURA)

Recebo, por e.mail, uma presente da minha amiga Lígia Coelho. Seria somente mais uma mensagem acompanhada de um pps. Todos sabemos que existem centenas deles, no entanto, ao desembrulhar meu presente, quedo-me ante sua singeleza, sou capturada, sinto-me a prisioneira mais liberta e me permito viagens, entre elas, criar novas imagens por meio do que escrevo agora.

As imagens do pintor Iman Maleki, a música de Bach e os textos de Cora Coralina, reunidos por J. Meirelles, na Série: “Arte e Reflexão”, conduziram-me para o centro de suas mensagens, tomaram-me pelas mãos da sensibilidade e transformaram esta manhã nublada e chuvosa de domingo, em um dia de luz.

Para me seduzir ainda mais, paralelamente, um belíssimo programa, sobre esculturas e escultores e sobre pinturas e pintores, mostrava desde a arte dos egípcios, passava pelos gregos, por Picasso, chegando até aos programas de computadores, todos tratando de desenhos e de formas (TV Cultura).

Enquanto olho a pintura da natureza, que, nesta manhã insiste em usar a tinta cinza, própria para desenhar manhãs nubladas, o êxtase,  promovido pelas cores de Iman, pelas palavras de Cora, pela ousadia de Picasso, pelas formas dos egípcios e dos gregos,  me faz olhar a manhã nublada por meio das luzes destes textos iluminados.Ora meus olhos, ora meus ouvidos vão sendo atraídos e se sentem divididos, diluídos em meio a essas diversas formas textuais, que vão cooptando meu prazer para a alegria.

Assim, dividida entre as telas, captando imagens nascidas dos pincéis e das tintas de Iman Maleki; das penas e da tinta de Cora Coralina e das esculturas e pintores de tantos e de todos os tempos, crio uma terceira tela, captando imagens para tela do meu celular, fotografando a tela do meu computador, para o qual devolverei estas mesmas imagens e que, possivelmente, irão para outra “tela” de papel, ao serem impressas.

Feito por palavras que se aliam a imagens, locupletando-se, este círculo de imagens inebriantes e embriagantes, confirmam o maior de todos os valores da arte: a emoção captada, seja de que forma for, nos alimenta, registra o tempo e a história, pelo horizonte do artista e do seu tempo. Isto é a vida marcada por penas, por pincéis, por cliques, por ferramentas diversas, que conseguem transformar tanto a pedra bruta, como a tela ou o papel em branco em poesia, pura poesia. Afirmar qualquer coisa contrária será a mais exorbitante heresia.

Ao final, ainda sou brindada com um programa televiso (TVBrasil) que mostra a grande artista, a pianista brasileira Guiomar Novaes. Ainda, neste mesmo dia, assisto (TV Brasil) a declarações de um músico de rua, um depoimento tão sincero e tão comovente, que paro tudo para ouvi-lo declarar seu amor à arte; a seguir, vejo o trabalho de um santeiro modesto, que declara que sua fé está em sua arte, e sua arte alimenta sua fé. Só para completar, ouço/vejo Egberto Gismonti. Demais!

Realmente, este domingo nublado, chuvoso que normalmente seria triste para qualquer carioca, que como eu, ama o sol, as luzes, o calor e as cores, torna-se belo, torna-se totalmente preenchido, pois consigo vê-lo através de muitas formas de arte. E tudo começou com o presente da minha amiga Lígia.

Toda esta mistura de arte e de artistas é mostrada como a migração da emoção através de todos os tempos. Então, me pergunto se o homem sobreviveria sem a presença da arte e das formas artísticas. Creio que não, o tempo é tão efêmero, nos escapa tão rapidamente que, mesmo a criação de um instrumento para registrar o tempo, não consegue aprisioná-lo, mas a arte sim, ela consegue trazer o tempo de volta ou nos projetar para o futuro, fazendo-nos felizes no tempo presente.

A arte não é objetivamente utilitária, mas, subjetivamente, nada mais útil à história, à memória, à emoção e à lembrança que a arte, pois é ela que nos dá a verdadeira direção de como sopravam os ventos em tempos de ontem e como sopram os ventos nos tempos de hoje e, além do mais, a arte também ousa fazer previsões sobre os ventos dos tempos futuros.

Para mim, o homem, assim como o tempo, sobrevive na arte e pela arte. E ainda há quem pergunte qual a função da arte. Tolos!

(Lígia, obrigada, muito obrigada!) 

3 comentários sobre “O PRESENTE DE LÍGIA

  1. Lígia Elias Coelho disse:

    Sônia
    Muito bom saber que, através de uma mensagem eletrônica que apenas repassei, levei um pouco de alegria e cor ao domingo cinzento de uma amiga.
    Melhor ainda saber que, por causa disso, ela inspirou um texto tão bonito,com palavras e imagens tão sensíveis, uma homenagem não merecida por mim. Afinal, penso que você, Sônia, deveria agradecer antes aos artistas que tornaram essa mensagem possível – o pintor, o músico, a poetisa (ou poeta, como se usa dizer agora, de uns tempos pra cá). Deve agradecer, também, a J. Meirelles, da série “Arte e Reflexão”, que faz circular mensagens tão lindas pela Internet (não o conheço, mas já recebi várias). A homenagem que vc me faz eu a divido com essas pessoas todas – os artistas e os que, usando a internet, transformam várias obras de arte em uma única obra de arte – a arte de compartilhar com amigos as coisas bonitas às quais temos acesso, cultivando amizades e tecendo tramas e redes nesta grande rede mundial.
    Finalmente, acho que vc deve agradecer a Deus, que nos enche a vida de cores, luzes,arte, música e perfumes, mesmo nos dias cinzentos, surpreendendo-nos a cada instante. E agradecer a Deus, também, pelo dom que lhe conferiu de traduzir emoções em palavras.
    Um grande beijo.
    Lígia

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