Bicho-papão [por Sônia Moura]
O MEDO é uma das maiores armas de manipulação e de instauração da insegurança, do afastamento da alegria e do prazer e, principalmente do ódio entre povos, cidades, países, vizinhos, irmãos.
O medo aprisiona e torna credo os incautos; ele nos faz escravos, porque tem a força de mil dragões com lança-chamas travestidos de verdades absolutas, desse modo o medo vai desenhando espectros poderosos.
O medo cospe fogo, paralisa e bebe forças de muitos, ao mesmo tempo que fortalece os “fortes”, os que fabricam e comerciam armas, os que fabricam as guerras, os que precisam derrubar para comandar; por isso o medo é sempre muito bem alimentado, desde o berço até (e depois) da morte.
Fantasma fincado nos corações com estacas cobertas de flores, a disseminação do medo nos faz inimigos de quem sequer conhecemos; faz temermos ou odiarmos alguém pela cor de sua pele, pelo que se veste, por seu tamanho, por suas feições, leva-nos a pré-conceber e tirar conclusões infundadas e, por isso, o medo, como é senhor e escravo da ganância, é uma praga difícil de ser exterminada, pois é lobo em pele de cordeiro.
Assim, enquanto ele se alastra e se arrasta pelo mundo, os senhores do medo regozijam-se em seus carrões, em suas mansões e dormem tranquilos o sono dos injustos e cruéis senhores, os verdadeiros bichos-papões.