A MINHA RUA

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A MINHA RUA  [por Sônia Moura]

 

            Há árvores em minha rua, assim, logo cedo, alguns pássaros, que nelas residem, despertam  ruidosamente e me despertam também, a seguir, um pouco antes da sete, uma buzina avisa que o flamenguista chegou para trabalhar(ou está saindo, não sei), aqui há hotéis e muitos trabalham à noite. A seguir, chega ou sai um torcedor do fluminense e sua buzina musical, às vezes esta ordem se inverte. Qualquer que seja a ordem, o dia na minha rua começa entre canções.

– Vassoureiro, vassoureiro! ; – Algodão doce, algodãaaaaaaaaaoooo!;  – Garrafeirooooooooo;  – Sorveteieieirooooooooo! Estas vozes múltiplas estão sempre de passagem, transitando em seus dias e em seus horários, vozes que se misturam com as dos trabalhadores, comerciantes, passantes, e, em alguns fins de semana, em dias de sol forte, vozes vindas dos subúrbios cariocas, vêm somar-se a estas vozes, por um breve espaço de tempo, é o tempo de passagem, quando estes visitantes sazonais, saem da estação do  metrô Cardeal Arcoverde,  passam pela minha rua e vão desembocar na praia.

Assim é a rua Rodolfo Dantas em Copacabana, se subo desemboco no metrô, se desço, desemboco no mar (ou vice-versa). É rua estreita, com carros estacionados desordenadamente, turistas que vão e vêm a todo instante, com o Copacabana Palace a fazer par com a beleza natural do Rio, com o mar logo ali a lamber milenarmente a areia, numa atitude sensual, provocante, como as garotas de todas as classes, profissões, idades. Tudo se mistura em Copacabana.

Há também meninos de rua que roubam, que zombam, que se defendem como podem, há mendigos, arrastando sua dor e seus trecos pela vida a fora. Infelizmente, há também essas dores, feridas expostas a quem passar por aqui.

Estou aqui há pouco tempo, mas já me apaixonei pela rua e pelo bairro, ambos possuem o perfil carioca de ser, às vezes meio desarrumado, desengonçado, mas cheio de charme. Ainda se faz amizade com o jornaleiro, o verdureiro da esquina (hoje chamado hortifruti), se pendura a conta, se bebe cerveja e se paga depois. A lista dos “conhecidos” é grande, vai dos guardadores de carros até a moça que conserta roupas, numa lojinha quase na esquina, sempre se tem com quem bater um papinho.  É gostoso demais.

Em qualquer lugar do mundo o inimaginável e o mágico podem passar, porém, nesta Copacabana epifânica, realidade e fantasia, loucura e lucidez não são passantes, visitantes ou curiosos, mas são moradoras que vieram para ficar.

 

Assim, no meio de tanta beleza e de tanta leveza, Copacabana vive e viverá, sempre. É impossível ficar alheio a esta verdade indomável. 

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