JOGO DA VIDA

 jogo da vida

JOGO DA VIDA (Autoria: Sônia Moura)

Reli suas cartas
Embaralhei sentidos e sentimentos
Vi meu rei abandonar a mim, sua rainha,
Aí, veio o valete e me cortejou
E em mangas de camisa
Entre ases e curingas me guardou

Deitou-me em um leito
Debaixo das copas das árvores
Amou-me como se eu fosse, acredite
A belíssima deusa Afrodite
Amou-me como uma dama,
Fez-me sua mulher-rainha
Chamou-me de tesouro
Depois, bebemos o vinho dos deuses
Em belíssimas taças de ouro

Apavorado com a notícia
O rei rapidamente voltou
Levantaram-se as espadas
Trocaram-se afiadas farpas
Mais parecia um jogo de cartas
Se bateram de duas às dez
Cortaram uma antiga canastra
Em muitos pedaços de pau
Já não se sabia mais
Quem dava as cartas

A plateia já estava farta
Ninguém queria ser o morto
Os dois queriam bater primeiro
Os dois queriam dar o bote certeiro
Os dois procuravam um atalho
Melhor é vencer este jogo
Nem um dos dois queria
Ser carta fora do baralho
A certa altura da luta
Depois de muita labuta
O cansaço de ambos
Quadruplicava tudo
Num escudo de ouro
Eram 04 reis, 04 rainhas,
04 valetes, 04 curingas…

E continuava a briga… Por fim…

O Valete de ouros venceu a luta
Foi uma peleja honesta
Por isto, o povo fez a festa
Embora o clero
Aliado à monarquia
Tentasse convencer a peãozada
Que aquele foi um jogo
De cartas muito bem marcadas

O Valete venceu
Não só porque
Tivesse mais sorte
Ele era mais forte
Ele tinha mais porte
Então, como previra
A cigana Esmeralda,
Ficou com a dama de ouros
Ganhou o melhor tesouro

Os miolos do rei se embaralharam
Ele passou de rei a curinga
Seu coração sofreu um golpe de espada
Endureceu como pedra
Não era mais de ouro
Era madeira, era pedaço de pau
Quem mandou ele ser mau
Para a rainha
Quem trata uma Dama
Com pedras e paus
Quem a deixa sozinha
Esquecida nas cozinhas
Ou nas copas
Quem não tem palavras doces
E a trata na base da espada
Como diz o povo
Esta é a regra do jogo:
“Quem não dá assistência,
Abre as portas à concorrência”

Assim é que o Rei de paus
Perdeu a luta, perdeu o jogo
Quem não trata bem à mulher
Seja nobre ou plebeu
Decide a sua sorte
Não joga mais com a vida
Decreta a própria morte

(Do livro: POEMAS EM TRÂNSITO de SÔNIA MOURA)

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