FUTURISMO

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FUTURISMO (Autoria: Sônia Moura)

Chamava-se Marinete, diziam que o pai, homem que amava as letras, lhe dera este nome em homenagem ao poeta Filippo Marinetti.
Desde sempre a menina mostrava estar além do seu tempo. Quando bebê e em criança era até engraçadinho ver as peripécias dela, mas, ao chegar à juventude, tudo mudou.
Marinete era o que a sociedade da época chamava de amoral e imoral, namorava todos e todas, sem o menor pudor, não escondia de ninguém seus desejos e loucuras. Gostava do hoje e muito mais do amanhã, vivia correndo, abominava tudo o que não fosse tecnológico, adorava uma briga, exaltava as guerras e, quase sempre, tentava resolver tudo por meio de atitudes violentas. Ela adorava as cores fortes e as usava em suas roupas, em seu quarto e em todos os seus pertences.
Dizia que as palavras precisavam ser livres, por isto as usava sem a menor cerimônia, às vezes, palavras de baixo calão, impropérios e grosserias saiam da boca da moça com a mesma facilidade que se engole água fresca, pois, para ela, isto era brincar com as palavras, Marinete não gostava das regras da língua mãe.
No entanto, havia um objeto que desbancava todos estes conceitos e o comportamento espevitado de Marinete, era uma medalhão em ouro velho com uma conta vermelho-sangue, presente da avó materna.
Sempre que punha o medalhão, Marinete se transformava totalmente, passava a ser uma dócil e gentil jovem. Alguns diziam que era o espírito da avó, uma romântica convicta que se apossava dela, e, quem defendia esta ideia dizia que ela era médium, daí as transformações tão repentinas.
E, também, dizem, até hoje, que o pai se arrependeu amargamente em ter colocado este nome na filha, pois, segundo ele, a filha não entendeu o recado do poeta.

(Do livro: Mistérios e Saudades de Sônia Moura)

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