CONTOS DE FADAS – I

                                                                              contos de fadas

Contos de Fadas  (Autoria: Sônia Moura)

 

 Misturando o real convencional e o real imaginado, os Contos de Fadas articulam, através da linguagem, os meandros do mundo vivido e do mundo da fantasia, transportando e fazendo acontecer o imprevisível, o novo e o diferente, transformados em realidade possível.

O complexo, o impossível e o inverossímel deixam de existir, nos textos desta natureza, pois a linha da imaginação, marcada pela narrativa original, torna todos os feitos e acontecimentos em coisas simples, possíveis e verdadeiras.

O tempo e o espaço são marionetes manipuladas de acordo com as necessidades da recriação de um real inventado, onde todas as dimensões se entrecruzam num momento único: aqui/lá, perto/longe, ontem/hoje/amanhã.

Do mesmo modo pelo qual nossa imaginação é capaz de nos transportar por caminhos incertos, alargados, redimensionados, o tempo e o espaço aparecem nos Contos de Fadas sem barreiras e sem fronteiras.

Rompendo todos os limites, a narrativa maravilhosa dos Contos de Fadas, por meio da desestruturação do mundo que já está pronto, apresenta este mesmo mundo redesenhado, no qual se pode conviver com o misterioso, o inesperado, o fantástico, e assim, apossando-se do universo mítico-simbólico, esta narrativa recria um mundo desejado pela imaginação.

Para a criança, este mundo oferece a possibilidade de exercitar, por exemplo, o “exorcismo” do que considera ruim; de projetar-se no tempo e no espaço; pegando carona nas viagens das personagens; de evocar o ausente; de ser boa (a fada, o mago, o duende) ou de ser má (a bruxa, o feiticeiro) e, em todos os casos, a criança pode, por exemplo,  ser a dona do mundo; ter poderes; ser capaz de “matar” ou “dar vida”, de acordo com as emoções daquele momento ou da sua realidade.

A imortalidade dos Contos de Fadas se dá principalmente porque o particular engendra-se com o geral, isto é, a alegria, o sonho, a fantasia, o medo, e/ou o sofrimento de um, podem ser de tantos outros.

Sendo a criança o elo entre o homem cultural e o homem primitivo, esta consegue transmutar-se, transformar-se e transportar-se para um mundo, onde a magia é a força motriz, que permite a recriação, a fantasia e o sonho. E, neste mundo (re)criado, a imaginação infantil (re)estabelece a ordem de qualquer desordem.

Por outro lado, o adulto é seduzido pela narrativa maravilhosa, a qual estimula a memória da emoção, pela poética tempo-espaço, o que o leva a reencontrar seu passado, onde os sonhos, a magia e a fantasia estão dormindo, à espera de que alguém ou algo os venha despertar.


 No entanto, o essencial deste tipo de conto, que é levar o homem a procurar entender seus conflitos, traçar ou retraçar o seu destino ou conviver com este destino, entendendo melhor a si mesmo e aos outros, traçando uma rota, onde os elementos feéricos transbordam e parecem convidar o homem a viajar nas asas do jogo do consciente e do inconsciente em busca do elo perdido: a sua origem.

Assim, os Contos de Fadas são retomados e recontados ao longo dos tempos, através de adaptações, transformações e de algumas modificações, por vezes, necessárias ao tempo e costumes de uma época.

 

Dois bons vetores das características de narrativas maravilhosas são as obras: Histórias Maravilhosas de Ana de Castro Osório e Uma Ideia Toda Azul de Marina Colasanti, que, como tantas outras obras voltadas para o universo infantil, seguem pelo mundo afora a seduzir crianças e as crianças que moram dentro dos adultos.

 

[Parte do trabalho apresentado por Sônia Moura – UFF- seminário/ 2002]  contos de fadas

 

                                                          

                    

 

Um comentário sobre “CONTOS DE FADAS – I

  1. Eonara disse:

    Sonia, posso usar essas imagens em um artigo que estou fazendo para minha pós em Língua Portuguesa?
    São belas!
    O seu texto contribuiu muito para clarear minhas ideias. Obrigada!

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