Havia muito pouco tempo que ela saíra do orfanato, no qual estivera por 13 anos. Lá viveu seus primeiros anos e naquela casa seus caminhos começaram a ser traçados. Aprendeu a amar as artes, as plantas, as pessoas e a vida. No pouco tempo fora do ninho, a maior vontade era para lá voltar. Como o mundo aqui fora era diferente, difícil. Sentia-se muito, mas muito só, mas continuava a crer na vida.
Fora morar com os tios no Leblon. Uma noite a levaram a uma festa no Humaitá. Até hoje ela se lembra do momento em que subiu a linda escadaria daquele prédio majestoso e, num dos degraus viu uma conta azul reluzente, apanhou-o e a tem até hoje. Nunca mais se lembrou da festa, das danças, lembra-se vagamente que tocaram uma música dos Beatles, mas da escadaria lembra-se de cada detalhe.
Um dia descobriu, aquela escadaria lembrava a primeira vez que subira a escadaria do orfanato, com muitas meninas cantando só para ela, foi a primeira vez na vida que se sentiu amada.
(Do livro Contos e Contas de Sônia Moura)