OUTRO DIA (Sônia Moura)
Sábado sombrio
Noite vazia
Solidão vadia
Não faz mal
É só mais um dia
Não é o fim da linha
{Da obra: POESIA DIA A DIA}
POR UM FIO (por Sônia Moura)
Num rio
Que corria
Para outro encontrar,
A ilusão,
Pendurada
Por um fio,
Sustentava
O meu desvario
Antes que o dique
Fendido da esperança
Se rompesse em lágrimas
Como um rio
[Da obra: POEMÁGICA]
BOLSA DE MULHER {Autoria: Sônia Moura}
Cabe tudo dentro de um traço
De união
Cabe tudo dentro de um apertado laço
De afeto
Cabe tudo dentro de um grande abraço
De carinho
Cabe tudo dentro do coração
De alguém sem um ninho
Cabe tudo dentro do sonho
Da nossa eterna criança
Cabe tudo dentro de qualquer fantasia
De carnaval ou de um conto antigo
Cabe tudo dentro do olhar
De um grande amigo
Cabe tudo dentro de um sorriso
De alguém que nos dá abrigo
Cabe tudo dentro de um segundo
De paixão
Cabe tudo dentro de um único dia
De alegria
Cabe tudo dentro de um aperto de mão
De cortesia
Cabe tudo dentro de uma noite
De prazer e boemia
Cabe tudo dentro da luz das estrelas vista
De uma janela sombria
Cabe tudo dentro de todos os cantares
De louca magia
Cabe tudo dentro de uma palavra
De amor
Cabe tudo dentro do silêncio
Da dor
Cabe tudo dentro de um amanhecer nos braços
Da pessoa querida
Cabe tudo dentro de um anoitecer depois
Da eterna lida
(Mas …
Quer saber de verdade,
Onde cabe tudo mesmo?
Quer mesmo saber?)
Tudo cabe dentro da bolsa
De uma mulher
[Da obra: COISAS DE ADÃO e EVA, de Sônia Moura]
HIENAS
As hienas voltaram
E estão aqui
Devorando tudo
Hienas voltaram
Para destruir
Destruir a pátria, a alegria
E não vão desistir
Animal sorrateiro,
Ronda suas presas
Falem baixo!
Cuidado!
Ou estas feras
Irão te perseguir
As hienas voltaram
Enfeitiçadas que são, enfeitiçam
Cercam a presa
Juram “verdades”
Estas feras voltaram
Não desistem, continuam aqui
Fazem promessas
Não vão desistir
Estes carnívoros chegaram
E estão a “sorrir”
E estão a mentir
Que tristeza
Eles novamente estão aqui
Cansei de califasias
Porque tudo o que tu fazias
E com lágrimas nos olhos me dizias
Me levaram a crer que estavas bajoujo
Depois tive a certeza de que
Com certeza, a bajouja era eu
Mas um dia sua máscara caiu
[Ou foi a bajouja que só agora viu?]
Até me deu vontade de me desventrar
Para o meu sofrimento acabar
Embora, de certa forma,
Tu ainda estejas a me bajoujar
E sempre que podes, com resiliência,
Tentes se chegar,
Recompondo-se par em par
Porque tu bem sabes que
Devagar, poderás um dia me “recuperar”
Pequeno glossário amoroso
1 –califasia – Arte de pronunciar as palavras com elegância.
2– bajoujo- 1- Que ou quem está perdido de amores. 2- Que ou quem mostra pouco discernimento ou pouca inteligência = parvo, tolo.
3- ba·jou·jar – 1. Lisonjear servilmente. = adular, bajular. 2. Animar; acariciar.
4- desventrar- Rasgar o ventre de; estripar.
5- resiliência- 1. [Física] Propriedade de um corpo de recuperar a sua forma original após sofrer choque ou deformação.
[Da obra: Coisas de Adão e Eva, de Sônia Moura]
NA CURVA DO ANZOL (Sônia Moura)
Presa na curva do anzol
A felicidade piscava para mim
Já sangrava, mas ainda assim,
Mais forte que a esperança
Resistia e me fazia resistir
Tinha toda razão,
Se presa nas garras do anzol
Ela não sucumbiu
Ainda que me ronde a desilusão
Eu também não vou desistir
(Da obra: Coisas de Adão e Eva)
ACORDA, ACORDA, ALICE! [por Sônia Moura]
Sofrida, enfurecida, ferida,
Como uma fera encurralada
Urrei baixinho
Tentando sufocar a dor.
Depois …
Em pedaços de raiva
Rasguei o seu retrato,
Lancei-me em meu mar de lágrimas
Afoguei-me, afaguei-me, mas salvei-me
E sobre meu pranto adormeci.
Acordei sobre um mar sereno,
Senti como se um novo mundo
Se abrisse
E, agora,
A cada minuto
Uma voz escuto
A me alertar:
– Alice, Alice, é hora de acordar!
[Da obra: Coisas de Adão e Eva]