TEU HOMEM

Teu Homem

TEU HOMEM (Sônia Moura)

Silêncio!
Dá-me tua mão
Sigamos o luar

Não há o que falar
Concentra-te na imagem
Sobreposta de mim
Encantado em ti
Não negues o amor
Absorve o sentido
Afasta a carência
Abraça a inocência

Com olhos fechados
Alarga o olhar
Agora sou pássaro
Em teu ninho a penetrar
Lugar quente e úmido
A me profanar
A me endeusar
A me orgulhar
De ser teu homem
Quem em ti se aninha
Que ri à toa
Por seres minha

(Da obra: POEMAS EM TRÂNSITO de Sônia Moura)

NO AR

NO AR

NO AR (Autoria: Sônia Moura)

A lua parada
Mirava a janela
Onde estava Maria
O luar penetrou
Nos olhos da bela
Naquele momento
Uma lágrima perdida
De nome saudade
Foi segura no ar
Pela luz do luar
Que a tirou
Pra dançar

(Da obra: Coisas de Mulher – de Sônia Moura)

NO AR

SONHAR NÃO CUSTA NADA…

SONHAR NÃO CUSTA NADA…

Sonhar não custa nada…  (AUTORIA: Sônia Moura)

Camisa cor-de-cenoura, a voz amanteigada, sotaque à francesa, coloca mel na panela e coloca mel nas palavras. Carioca da gema, mundial da gema, brasileiro da gema, espalha alegria pelo palco-cozinha , a simpatia se esparrama pela tela, enquanto o tempero se esparrama na panela.
Consegue me seduzir mesmo sem saber.
Cabelos grisalhos à Richard Gere, e o sorriso? Ah! O sorriso me chama, o olhar me convida e fica a distância. Quero este sorriso. Quero este olhar para olharmos juntos o dia e a noite desta cidade, lá de cima do Corcovado ou do Cristo Redentor.
Chego à hora marcada. Espero por ele, todos os dias. Isto é paixão. O Cristo Redentor é testemunha, o mar também, não arredo pé. Ele é a minha paixão.
Chegou, pronto! – Boa noite! – Boa noite, respondo. Aquele jeitinho carioca me envolve todinha. Como resistir, como? Impossível resistir a este menino impossível, Cupido me possui.. -Não quero resistir, ao contrário, quero insistir, sonhar e nunca, nunca desistir. Ele é o meu sonho. Maravilhoso! Nem preciso dormir para sonhar.
Cedinho, na manhã do novo dia, vou dar meu passeio pela orla, olho o mar e o relógio, ele nunca se atrasa, também gosta de caminhar. Chegou, vem em minha direção, está encantador, este verde-claro combina com ele. -Bom dia! – Bom dia! Fim da caminhada, hora de voltar para casa. Não, hoje não. Quero ficar mais um pouco olhando este marzão.
Conheço aquela garota! – Jeruza! Abraçaram-se. Há quanto tempo as amigas não se encontravam?
Conversa vai, conversa vem, resolve desabafar: -Sei que parece loucura, mas fazer o quê? É paixão, acredite, é uma paixão, sabe destas de adolescente mesmo, você entende? A amiga ria ante aquela confissão, conhecia Leda há tanto tempo, sabia que era sonhadora. Será que agora Leda não estava exagerando? Mas quem sou eu para julgar a paixão alheia, deixa ela sonhar, pensou Jeruza.
Chegou ao trabalho cantarolando baixinho. Os colegas perguntaram se Leda estava amando. – Sempre, foi a resposta. Durante o dia, seu pensamento migrava para a imagem dele. Era tão lindo! Amanhã é sábado, é dia de vôlei, é dia deles. Ele fica maravilhoso com aquela sunguinha, e como joga bem. À noite, vamos ao cinema ou ao teatro, depois, vamos à cervejinha, ao bate-papo gostoso, é preciso pensar na roupa, ah! e o cabelo, precisa de um jeitinho. Não há um dia que não se vejam, não há um dia que ela não pense nele. Tão charmoso!
Cada dia que passa a ansiedade cresce. Chega o domingo. Um passeio pela Floresta da Tijuca, muitos beijos, suaves, ardentes, quentes. Ele é tão carinhoso, me arrebata o coração, me domina, se apossa do meu corpo, não consigo resistir. O cheiro e o mistério da floresta se confundem com o mistério da paixão. São muitos os mistérios da vida, mas o mistério da floresta é tão atraente quanto o mistério da paixão. Paixão e florestas ambas são belas; sempre nos parecem tão belas, na verdade ninguém pensa no perigo na hora de se aventurar por elas. Não é à toa que estão sempre nas histórias infantis, acompanham-nos por toda a vida. Agora ambas fazem parte de nossa vida, meu amor, pensou Leda.
Como estava feliz! O passeio alongou-se até a tardinha, depois veio a hora do almoço, que foi ali mesmo na floresta, Leda levara um belo farnel. Famílias, casais, todos ali curtindo a natureza, o amor e a paixão e saboreando o almoço diferente, gostoso. Amor e comida – bela combinação- sensual, deliciosa!
Cada segundo era vivido intensamente. É bom amar, mesmo em sonho, mesmo na fantasia. O dia estava acabando, hora de voltar para casa, o domingo estava acabando. Dormir e continuar sonhando. Bom sonhar.
Cedinho saio para caminhar, uma nova semana, segunda-feira. Sinto a falta dele. – Tomara que o dia passe rápido, tomara, quero a noite, quero estar com ele novamente, uma saudade que não dá mais para aguentar. Rodolfo, preciso estar com você!
Calmamente a noite chega e, na hora sagrada, ele está no ar. Um muro transparente nos separa, Rodolfo nem sabe que eu existo, está tão distante… Meus olhos presos na tela, ele preso do outro lado da tela.
Começa o programa e o aroma dos pratos me invade pelos ouvidos, o sabor invade minhas vontades, sua inquietude invade minha ilusão. e eu continuo a sonhar… um dia vou te encontrar, um dia…

Ele lê o conto e também sonha que o moço da história era ele.

(Obra: DOZE HOMENS CONTAM, de Sônia Moura)

JOGO CIRCULAR

JOGO CIRCULAR

JOGO CIRCULAR (Autoria: Sônia Moura)

Menino sem dono
O mar ainda com sono
Bebe o leite da lua cheia

Mulher de quatro faces
A lua afasta o lençol
E sorve o brilho do sol

Deus do calor desperto
O sol dono do terreiro
Lambe as folhas da palmeira

Amiga da areia menina
A palmeira bailarina
Dança para o vento menino

Menino liberto e esperto
O vento todo assanhado
Namora a terra encantado

Mãe de todos e todas
A terra beija o vento
E num jogo circular
Ainda namora o mar

(Da obra: COISAS DE MULHER de Sônia Moura)

JOGO CIRCULAR

TERNURA

TERNURA


TERNURA

 

Se o mundo falasse

Iria dizer

Que as noites

São poucas

Que os dias são muitos

E que ele é pequeno

Quando estou

Sem você

 

 

                                                           Uma saudade imensa misturada a uma

                                                      Porção de dúvidas e medos.

                                                      MAIO 2001

ONDE (NÃO) MORA A POESIA?

ONDE (NÃO) MORA A POESIA?

ONDE (NÃO) MORA A POESIA? (Autoria: Sônia Moura)

A poesia vive de suas canduras, franquezas e ilusões, se equilibrando entre o real e a fantasia, pois é retrato do mundo e reflexo da vida.
É pelos vieses das dimensões do real que a poesia transita e é por esta e outras razões que um só verso é capaz de abalar nosso mundo, nossos sonhos ou nossas verdades.
Poderosa arma transitando entre as fendas do paraíso sem abominar as labaredas do inferno, a poesia surge para preencher lacunas, provocar metamorfoses, aplacar dores, embalar amores, recusar a guerra, exaltar a paz, tudo isto a poesia faz.
A poesia existe para preencher vazios e ausências, tornando a dureza da vida mais leve, as decepções mais breves e as aspirações semibreves, enquanto o lirismo rege uma orquestra na qual a ausência de limites traça uma nova realidade cheia de encantamentos.
O ritmo da poesia alimenta a mística da palavra, variando sílabas tônicas e não tônicas, soando metrificação e correspondência sonora, mesmo quando se enquadre na categoria arrítmica, todo verso é música, que se apresenta numa pauta diferente, mas que embala e conforta.
Ainda que não seja obrigatória, a rima, mãe do ritmo e regente da melodia, é artimanha do autor, foram os trovadores que criaram este encantamento misturando o recitar e o cantar, somente para a plateia encantar.
Com a sua irrefutável acumulação imagística, a qual preenche o vazio de cada um em seus variados momentos de alegria ou de dor, a poesia é musa que leva o poetar ser uma aventura pelas vielas que esta musa cria e por elas nos guia, assim, uma vez que é senhora de generalidades, a poesia pode ser necessariamente incisiva ou mostrar-se muito generosa, e, em outros momentos, pode ser agressiva ou consoladora, tudo acontece de acordo com a sucessão de cada instante.
Assim, ler ou escrever um poema pode ser uma viagem Ulissiana ou um encontro com sereias, ou pode ser um embate com monstros marinhos ou uma conversa com anjos, tudo é viagem quando nos acomodamos nas asas da poesia, uma vez que esta se hospeda na transpiração e se alimenta de muita inspiração.

Mas onde mora a poesia?
Mora nos recônditos da ilusão, nos liames da palavra, na incerteza e na ilusão, no íntimo ou na superfície de mentes, de sonhos e da contemplação, mora também na doçura do olhar, na alegria do regresso ou na lágrima da partida, nas brincadeiras, nos jardins, na beleza do corpo ou da alma, na agitação ou na calma, enfim, a pergunta verdadeira é: – Onde não mora a poesia?

(Apresentação – Universidade Cândido Mendes – 2012)

ONDE (NÃO) MORA A POESIA?

Esconder a tristeza, por quê?

Esconder a tristeza, por quê?

Esconder a tristeza, por quê? (autoria: Sônia Moura)

Tristeza tem fim, sim, só não adianta escondê-la.

Por que temos que “estar felizes” a qualquer custo e sempre? Por que não podemos mais entristermo-nos? Gente, a tristeza existe e é tão forte quanto a alegria, claro que preferimos a alegria à tristeza, mas, às vezes, a tristeza chega e não tem jeito.
Hoje em dia, querem nos convencer de que ninguém sofre, ninguém tem problemas, ninguém sente dores, especialmente as dores da alma, e, se alguém ousa colocar à mostra sua dor, logo, logo, é taxado de reclamão, dramático, chato.
Esta é a grande verdade, nos dias de hoje, não se pode mostrar a dor, o certo, dizem, é escondê-la debaixo do tapete, só que a dor é volátil, assim sendo, por qualquer fresta ele se esvai e se denuncia.
Não tem jeito, é a vida, e nela a dor aparecerá, mas como tudo ela não é eterna.

Esconder a tristeza, por quê?