QUASE POESIA

QUASE POESIA

QUASE POESIA (Autoria: Sônia Moura)

Na quase poesia
A quase rima
Se mostrou tão fria
Quanto a chuva
Que friamente caía,
Quanto o frio da alma
Que a tristeza trazia
E esta, cinicamente,
Na margem direita do rio
Sorria, sorria, sorria…

Na margem esquerda do rio
Um ainda quente coração
Esfriava e
Sofria, sofria, sofria…

Desta fôrma fria
Nasceu esta quase poesia

(Da obra: COISAS DE MULHER de Sônia Moura)

QUASE POESIA

MEL e FEL

MEL e FEL

MEL e FEL (por Sônia Moura)

Se for ameaçada
Abelha que faz mel
Ferroa
Por sentir o sabor
Do fel

Alguns seres humanos
Hoje dão o mel
Amanhã espalham o fel
Ferroando
Ao deus-dará
Estes não sabem amar

(Do livro: Coisas de Mulher – Sônia Moura)

MEL e FEL

PALAVRAS DO GATO

PALAVRAS DO GATO

PALAVRAS DO GATO (por Sônia Moura)

O gato da história de Alice no País das Maravilhas, com seu sorriso enigmático e com sua incrível capacidade de aparecer e desaparecer (ou seja, quando desejava ficava invisível), não disse a Alice, menina perdida naquele país ou em seu sonhos, em suas fantasias ou em seu mundo particular, por qual caminho seguir:


Alice está perdida, andando naquele lugar e, de repente, vê no alto da árvore o gato. Ela olha para ele lá em cima e diz assim:

– Você pode me ajudar?

– Ele falou: Sim, pois não.
– Para onde vai essa estrada?, pergunta ela.
– Ele respondeu com outra pergunta: Para onde você quer ir?

. Ela disse: Eu não sei, estou perdida.”

Ante a indecisão da menina, deu apenas uma resposta breve:

– “Para quem não sabe onde ir, qualquer caminho serve.

– … desde que eu chegue a algum lugar, acrescentou Alice em forma de explicação.

– Oh, você vai certamente chegar a algum lugar, disse o Gato, se caminhar bastante.”

Portanto, ainda que não saibamos que rumo seguir, o melhor é ir em frente, assim, ainda que o percurso seja longo ou  se em algum momento,  nos sentirmos perdidos ou mesmo se formos chamados de loucos, sigamos em frente, pois, como o gato do sorriso sarcástico disse à menina Alice:

– “… somos todos loucos por aqui. Eu sou louco. você é louca.”
O “aqui”, a que se refere o gato, é o país das maravilhas da narrativa, mas, convenhamos, este nosso planeta com os seus contrastes e conflitos, não é mesmo o lugar de todas as maravilhas e loucuras?
Então, sigamos “adelante” e certamente chegaremos a algum lugar, basta que caminhemos em busca da realização de nossos desejos.

PALAVRAS DO GATO

ALMA PERDIDA

ALMA PERDIDA

ALMA PERDIDA (Autoria: Sônia Moura)

Nervos em frangalhos
Boca tão seca
Bebendo orvalho
Da madrugada
A esperar por quem
Não vem, não vem…
Lua esturricada
Fingindo ser sol
A dor aumentando
Aflição, angústia…
Palavras perdidas
No meio do nada
Já é madrugada
Os pássaros dormem
A solidão acorda
A clava no peito
A lágrima no leito
O amor tão sem jeito
Imagem insalubre
A rondar meus sonhos
A embaçar meus olhos
Quase a me cegar
Face desfeita
Esperança estreita
Alma perdida
Preciso me encontrar

(Da obra: COISAS DE MULHER de Sônia Moura)

ALMA PERDIDA

TEMPO!TEMPO!

TEMPO! TEMPO!

Tempo! Tempo! (Autoria: Sônia Moura)

Se khronos pode ser medido, eu não sei
O que eu sei é que os homens acham
Que ele pode ser contido
Por relógios, calendários ou em diários
Ilusão, doce ilusão

Já kairos, cá entre nós, está nas mãos de Deus
Não tem dimensão, não tem contenção, isto não
Este é o tempo de Deus
E é ele quem diz: – Seja bem-vindo ou adeus
Pensar que podemos controlar kairos
Ilusão, doce ilusão

(Do livro: POEMAS EM TRÂNSITO – Sônia Moura

TEMPO! TEMPO!

ONDE (NÃO) MORA A POESIA?

ONDE (NÃO) MORA A POESIA?

ONDE (NÃO) MORA A POESIA? (Autoria: Sônia Moura)

A poesia vive de suas canduras, franquezas e ilusões, se equilibrando entre o real e a fantasia, pois é retrato do mundo e reflexo da vida.
É pelos vieses das dimensões do real que a poesia transita e é por esta e outras razões que um só verso é capaz de abalar nosso mundo, nossos sonhos ou nossas verdades.
Poderosa arma transitando entre as fendas do paraíso sem abominar as labaredas do inferno, a poesia surge para preencher lacunas, provocar metamorfoses, aplacar dores, embalar amores, recusar a guerra, exaltar a paz, tudo isto a poesia faz.
A poesia existe para preencher vazios e ausências, tornando a dureza da vida mais leve, as decepções mais breves e as aspirações semibreves, enquanto o lirismo rege uma orquestra na qual a ausência de limites traça uma nova realidade cheia de encantamentos.
O ritmo da poesia alimenta a mística da palavra, variando sílabas tônicas e não tônicas, soando metrificação e correspondência sonora, mesmo quando se enquadre na categoria arrítmica, todo verso é música, que se apresenta numa pauta diferente, mas que embala e conforta.
Ainda que não seja obrigatória, a rima, mãe do ritmo e regente da melodia, é artimanha do autor, foram os trovadores que criaram este encantamento misturando o recitar e o cantar, somente para a plateia encantar.
Com a sua irrefutável acumulação imagística, a qual preenche o vazio de cada um em seus variados momentos de alegria ou de dor, a poesia é musa que leva o poetar ser uma aventura pelas vielas que esta musa cria e por elas nos guia, assim, uma vez que é senhora de generalidades, a poesia pode ser necessariamente incisiva ou mostrar-se muito generosa, e, em outros momentos, pode ser agressiva ou consoladora, tudo acontece de acordo com a sucessão de cada instante.
Assim, ler ou escrever um poema pode ser uma viagem Ulissiana ou um encontro com sereias, ou pode ser um embate com monstros marinhos ou uma conversa com anjos, tudo é viagem quando nos acomodamos nas asas da poesia, uma vez que esta se hospeda na transpiração e se alimenta de muita inspiração.

Mas onde mora a poesia?
Mora nos recônditos da ilusão, nos liames da palavra, na incerteza e na ilusão, no íntimo ou na superfície de mentes, de sonhos e da contemplação, mora também na doçura do olhar, na alegria do regresso ou na lágrima da partida, nas brincadeiras, nos jardins, na beleza do corpo ou da alma, na agitação ou na calma, enfim, a pergunta verdadeira é: – Onde não mora a poesia?

(Apresentação – Universidade Cândido Mendes – 2012)

ONDE (NÃO) MORA A POESIA?

LUAS

LUAS

LUAS (Autoria: Sônia Moura)

Houve um tempo, na lua de colheita,
Em que nos amávamos até o amanhecer
Eu te acordava com beijos
Sentias o meu bem querer
Mas como a vida é jornada e não destino
Este teu coração menino
Está preso numa encruzilhada
E na sabes sonhar sonhos possíveis
Nem sonhas lindos sonhos impossíveis
Mas o mundo tem suas magias
E quem sabe um dia, numa lua cheia de maio
Tu apareças para mim
E me rapte para outro tempo
Então caminharemos com os Celtas
Com a certeza de que a magia ainda existe
E na lua cheia ou minguante
Vamos sonhar sonhos possíveis ou impossíveis
Fazer loucuras terríveis, visitar novos lugares
Desvendar insanos mistérios
Que sempre despertam desejos
Sorrirei para a tua presença
Arriscarei também delirar
Que serás meu para sempre
Que serás meu e tão-somente meu
E a mim tua hás de amar
Sonharei sim, porque sei que
Às vezes é preciso arriscar
E para tal é preciso fantasiar
Nos sonhos, convertendo casa em lar,
Transformando desamor em (re)amar
Neste enredo bem bordado
Tu me darás o que preciso
Me darás o que é preciso
E me darás o que é precioso
E este nosso amor gostoso
Vingará, dará filhotes
E pelo mundo se espalhará
Então vamos relaxar
Deixar o barco correr
Fazer o mundo girar
Vamos cirandar
O universo o resto fará
Ainda que em sonho
É hora de aproveitar!
(Do livro: COISAS DE MULHER de Sônia Moura)

LUAS

INFAUSTA ILHA

INFAUSTA ILHA

INFAUSTA ILHA (Autoria: Sônia Moura)

Você não fala, mas ouço a sua voz
As palavras saltam do meio da saudade
Elas são ecos desse louco coração
Que de seu amor é dependente
E vaga dias e noites entre o sono e a vigília
Agarrado ao salva-vidas da poesia,
Nas páginas dos Contos de Fadas
Ou se embrenha nas asas da fantasia

Por acaso ou por pura agonia,
O amor se mostra a mim
Como cruel e fria nostalgia
Transformando o meu pobre
E sombrio coração
Numa esquecida, perdida e
Infausta ilha

(Da obra: POEMAS EM TRÂNSITO de Sônia Moura)

INFAUSTA ILHA

ACERTOS e DESACERTO

ACERTOS E DESACERTO

Acertos e desacerto (Autoria: Sônia Maria)

Eu acertei a hora no relógio
Eu acertei na mosca
Ao escolher a profissão
Acertei as contas
Com quem devia
Acertei no milhar
(Pelo menos uma vez)
Acertei bem no alvo
No parque de diversões
Mas nunca, nunca mesmo
Acertei com as coisas do coração
Só não sei qual a razão

(Da obra:POEMAS EM TRÂNSITO de Sônia Moura)

ACERTOS E DESACERTO

ILHA

ILHA

ILHA (Autoria: Sônia Moura)

(À Ana Maria, apaixonada por todas as ilhas)

Distante do continente
Uma porção de terra flutua
E benditos cantos
Cheios de encantos
Entoam mil loas
A essa terra boa

Sozinho no meio
Do rio ou do oceano
Este sagrado lugar
Recebe o luar
Acolhe o mar
Protege a alegria
No espelho d`água
Sua doce imagem
Desenha miragens
De ídolos adormecidos
E em suas frondosas árvores
Portentosas aves cantam
Saborosos frutos adocicam
E em seu desejado chão
Em arco-íris desabrocham
Perfumadas e veludadas flores

Mil vozes se lançam aos céus
Louvando graças
A esse bem-amado torrão
Que é casa
É concha
É círculo envolvente
Que abriga
Toda gente

Plantada em águas do planeta
Esta terra que é mãe e filha
Tem um nome modesto:
– Ilha!
(Da obra: Coisas de Mulher – Sônia Moura)

ILHA